sábado, 5 de novembro de 2011

Textos sobre Heloisa Pires Ferreira

                                                                                                                                                                                                Anna Letycia*

 

          A apresentação     sairia de uma conversa informal, da qual se extrairiam trechos de cada um sobre se próprio trabalho, em que um dissesse o essencial para uma conversa ao público.  Foi, de fato, uma conversa bastante longa.  Aloísio Magalhães, Solange e eu ficamos solicitando informações e fazendo comentários que pudessem completar o quadro.  Dessa conversa alinho trechos que me parecem os mais referentes.

 

          ”Eu quero mesmo é saber o que se passa dentro de mim, mil coisas que não sei e esse vasto território que a gente tem e do qual usa uma área tão mínima. Tenho necessidade de mergulhar, sabe? Não sei se isso se percebe nos meus trabalhos.  Eu nunca falo nisso” . Vida-Morte-Suícida, três trabalhos e Heloisa, de pássaros no espaço..  Sempre o pássaro.  Mas não vejo o pássaro neste.  “É o olho da pena de pavão. O mundo gira de tal forma que você deixa de ser pássaro, pavão ou o que for vira detalhe, perde o seu todo”. Heloisa Pires Ferreira começou seu trabalho de gravura na Escolinha de Arte do Brasil, onde os quatro se conheceram e trabalham. Experimentou primeiro a xilogravura com Altino, técnica que não lhe eu o resultado desejado. Foi então para a gravura em metal com Marília Rodrigues.  “Uma das razões deu fazer gravura em metal é a possibilidade de usar a força na execução da gravura, junto com essa coisa muito delicada e sensível que é o resultado final da impressão. A força do ácido nítrico me fascina.  Antes eu pintava e desenhava, mas sempre um trabalho muito solitário.  Há momentos em que o mundo me traga, sabe? As pessoas em termos de aglomeração , de tumulto, todas essas coisas estereotipadas que existem no mundo, muitas vezes me sufocam, a tal ponto que eu sinto como se fosse um gigante olho, sabe?”  A cor no trabalho de Heloisa é essencial para a criação da atmosfera que deseja nos seus espaços perdidos.  Trabalha muito na técnica do verniz mole e da água tinta. A gravura é feita com várias chapas e superposições.  Um acaso de circunstância determinou o encontro dos quatro e a exposição e agora, simpatia, empatia....”

 

*Anna Letycia, gravadora, apresenta Heloisa Pires Ferreira, na exposição coletiva: “Gravuras De”, na Galeria de Arte Divulgação e Pesquisa, no Rio de Janeiro, dezembro de 1976,

                             

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                                                                           Walmyr Ayala*

 

 ...Li uma vez uma teoria sobre o desenho, situada na Lenda do Minotauro, mais explicitamente na área simbólica do labirinto, uma explicação para a natureza do desenho.   A direção concêntrica do caminho que pode conduzir ao abismo, deve ser o sentido mais profundo que ilumina o desenhista, no correr do traço pelo qual transfere ao espaço sua meditação genesíaca da forma.  Figura ou abstração, geometria ou informalismo, a sabedoria do desenho repousa neste mistério que não se decifra ao primeiro olhar, nem ao primeiro gesto, que não tem nada a ver com a matéria plástica, mas com a consciência gráfica.  A atração pelo labirinto está também na raiz do desenho obsessivo, na minúcia elaborada, no pontilhismo, mesmo no traço espontâneo que sempre obedece à inclinação das curvas.  Desta técnica de concentração e destreza surge uma possível cosmovisão, tão empenhada em sondar os laboratórios íntimos da matéria, o universo celular, como a definição da linha do horizonte.

                  Na obra de Heloisa Pires Ferreira, da difícil técnica da gravura em metal, a obsessão do labirinto é mais consciente e dramática.  As formas tendem para o centro, as figuras tentam romper a lei do labirinto. Há redes e tramas interceptando a liberdade.  As imagens parecem buscar a plenitude da liberdade, são fábulas de estágios desta ação de recriar uma realidade própria.  A imagem de um pássaro parece lutar com a sua própria sombra, que anseia o túnel e o abismo.   Noutra imagem um pássaro parece pousar num planeta em chamas, sem se consumir.  A vida está envolvido num conflito de afirmação e negatividade, com vitórias evidente da abertura para um espaço respirável.  Tudo isto vazado em técnica amadurecida e sem maiores marcas de influências.

 

*Walmir Ayala - Poeta e Crítico de Arte. Apresentação da exposição Individual: Vestíbulo Nobre do Palácio Farroupilha, Porto Alegre, RGS – agosto de 1977.

 

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                                                           Zeferino P. Freitas Fagundes *

 

          A gravura em sua finesse e sofisticação ganha nas mãos de Heloisa Pires Ferreira a nota de humanidade faltante aos gravadores assépticos, esquálidos e “concretos”.  Embora não absolutamente novos para nós as suas propostas, senão em uma ou outra particularidade, aliás não desprezível, o seu trabalho tem a imprescindível aura de emoção que obviamente caracteriza – inobitante os ditos em contrário – a Arte. E isso não é só quando se ocupa, HPF, de pássaros, ou quando redimenciona, gravuramente a beleza, dir-se-ia matemática de vegetais, alguns dos quais (“espargos”), nos são tão caros desde a infância: o mesmo ocorre ao refugir, HPF do figurativo. Há demais disso em seu gravar, não só o substrato, mais ou menos curial, de busca de explicação das origens, , condições e circunstâncias mais íntimas e mais gerais de ser – seu, e do mundo – mas uma irmã, e subconsciente simbologia, que reforça o interesse interpretativo e cultural do seu trabalho.

 

*Zeferino P F Fagundes, crítico de arte. Jornal: “Correio do Povo”, 1977, pág 15. Palácio Farroupilha, Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

 

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Lívio Abramo*

 

          “Los siete artistas brasileños que figuran em esta muestra pertencen, em su mayoria, a la generación que se há desarrolhado entre  las dos últimas décadas em el panorama artístico del Brasil. Así reunimos artistas de várias tendências y técnicas....”

 

...”Heloisa nos muestra su mundo de ensueños, de fantasia orientalizante em su delicada y fefinada textura.  Sus “mandalas” (dibujos em formas circulares, propios de algunos pueblos antiguos) reflejann el mundo sofisticado y dramático de la artista.”

 

                    “Heloisa nos mostra seu mundo de sonho, de fantasia orientalizante em sua delicada textura. Suas “mandalas” refletem o mundo sofisticado e dramático da artista.”

*Livio Abramo – Gravador. Apresentação da Exposição “4 Grabadores y 3 dibujantes brasileños” no Centro de estudos Brasileiros,  Asuncion, Paraguay, 1977.

 

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                                                                               Osmar Fonseca *

          “Dar forma” para Heloisa foi sempre um processo onde o método, o objeto e o autor formam um todo indivisível.  O objeto não sendo representação diante do outro, “um estudo aqui”, mas “um sendo”.  Ela começou seu trabalho através da pintura e do desenho, abstrações onde a investigação do espaço interior (exterior?) delineia a possibilidade de nomear o desconhecido. Para a percepção e compreensão de seus trabalhos até hoje é necessário outra forma e espaço. Não falo de problemas de composição gráfica, nem de formas, ou que formas em determinados espaços, mas a necessidade vital de criação de espaço.

Vejo três etapas na evolução de seus trabalhos; investigação, conquista e estabelecimento.  Desta última são os trabalhos apresentados nesta mostra.  Nada me fazia prever a chegada em tal lugar, o espaço estabelecido é outro que o esperado, ele é estendido ao máximo de sua amplidão.  Nada mais voa sob e sobre imprecisos ventos.  O que ela chama sonho é o real no exato momento em que a terra surge e Heloisa pousa os pés no chão.

*Osmar Fonseca, desenhista, e pintor apresenta a exposição: “Gravura Carioca hoje: dezesseis novos gravadores”, Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, 1978.

 

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                                                                               Décio Presser*

[...] Ainda recentemente a Oficina de Gravura do Ingá recebeu da Fundação Gulbenkian, como reconhecimento do mérito dos processos técnicos e didáticos que vem desenvolvendo, uma bolsa de aperfeiçoamento em Lisboa, da qual foi indicada Heloisa Pires Ferreira, a que realizou uma exposição em Porto Alegre em 1976.

[...] Além, de Heloisa  Pires Ferreira premiada com uma bolsa no exterior no decorrer de 78, outros professores e alunos da Oficina de Gravura do Ingá apareceram em destaques em 1978.

                                                                               *Décio Presser –

Correio do Povo, página 13,                                             setembro, 1978, Rio Grande do Sul

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                                                 Rogério Luz *

 

          Heloisa alia um prolongado desempenho no ensino de arte e na animação comunitária a uma intensa atividade da área de produção artística.  Firmando seu conceito de artista que trabalha continuamente e com seriedade, amplia a cada dia seu extraordinário domínio dos múltiplos recursos da gravura em metal a que, desde alguns anos, vem se dedicando com exclusividade.

          Das intenções de seu trabalho, em grande parte centrado na temática do pássaro – totalidade ou fragmento, morte e liberdade – fala-nos a artista: “Eu quero mesmo é saber o que se passa dentro de mim, mil coisas que não sei e esse vasto território que a gente tem e do qual usa uma área mínima.  Tenho necessidade de mergulhar, sabe?...””Uma das razões de eu fazer gravura em metal é a possibilidade de usar a força na execução da gravura, junto com essa coisa muito delicada que é o resultado final da impressão”.

E é Anna Latycia, uma das mestras de nossa gravura, que diz: “A cor no trabalho de Heloisa é essencial para a criação de atmosfera que deseja nos seus espaços perdidos.  A gravura é feita com várias chapas e superposições”.

          Na obra de Heloisa, a técnica apurada é posta a serviço de algo mais original e mais forte do que a perícia formal.  É essa força poética que ilumina as gravuras da artista, síntese de dinamismo e interioridade.

 *Rogério Luz, Artista Plástico e Professor Universitário.  Apresentação da individual de Heloisa, na Galeria de Arte Caspicara, em Quito, Equador, 1979.

 

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                                                                                         Edith Behring*

          Por seu talento, reconhecido entre nós por artistas e críticos de Arte, por sua imensa dedicação ao trabalho à que vem se dedicando há anos, embora sua juventude, considero extremamente desejável que a Heloisa Pires Ferreira seja concedida uma oportunidade de expandir sua atividade criativa com novos ambientes de trabalho.

          O encontro com outra civilização certamente lhe será profícuo, na medida em que, diante de novos horizontes, sua expressividade particularmente desenvolvida, absorverá com intensidade novos meios de perseguir sua meta de sempre progredir.

           Convicta do que venho  de afirmar, tomo a liberdade de recomendar com empenho, para uma bolsa de estudos desta sta Heloisa Pires Ferreira. Cordiais saudações,

*Edith Behring, gravadora assessorou a equipe de arquitetos engenheiros na montagem da oficina de gravura do MAM. Apresenta Heloisa, em 1979.

 

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                                                                                         Marc Berkovits*

 

Acabo de ver as últimas gravuras de Heloisa Pires Ferreira.  Não há dúvida que se trata de um novo e autêntico valor que surge no já  tão merecidamente famoso grupo de gravadores brasileiros. Heloisa Pires Ferreira dominou a técnica da gravura em metal, inclusive a tão difícil e aqui pouco praticada técnica do buril, para fazer dela seu instrumento, um meio para atingir um fim que já está vislumbrado: a sua linguagem própria.

Para Heloisa Pires Ferreira seria útil e necessário poder viajar ao exterior – para ver, absorver, meditar, comparar.  E também para mostrar.  Os seus últimos trabalhos já possuem um nível mais que suficiente para isto.

Como crítico exigente, e portanto com a consciência tranqüilo, recomendo Heloisa Pires Ferreira à atenção daqueles que lhe podem ajudar.

*Marc Berkovits – Crítico de Arte – ABCA - AICA. Carta de apresentação, prêmio “Fundação Calouste Gulbenkian”, Lisboa, Portugal, através da Oficina de Gravura do Museu do Ingá, 1979.

 

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Zoe Noronha Chagas Freitas*

 

          Heloisa Pires Ferreira, professora de artes integradas, desincumbiu-se com dedicação e competência como Coordenadora nos setores de artes plásticas e de música, durante o I Encontro Latino Americano de Educação Através da Arte – ELAEA/77, realizado na Universidade do Estado do Rio de janeiro – UERJ.

          Tenho acompanhado seu trabalho com crianças e adolescentes, além de sua experiência na periferia do Estado do Rio de Janeiro, com professores de diversos Municípios, em artes integradas.

          Sua contínua produção artística e o exercício do magistério favorecem o amadurecimento de sua sensibilidade e a tornam segura Consultora em Projetos da SOBREART, que estão, sobretudo, voltados pára a problemática educativo-social.

*Zoe Noronha Chagas Freitas, presidente da Sobreart em apresentação, por ocasião da Bolsa de Estudos e de Viagem Fundação Calouste Gulbenlian, Lisboa Portugal, 1979.

 

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Maria Rodrigues*

Em atenção à seu ofício nº 828/79 – FCC-D.P., tenho a satisfação de indicar a gravadora Heloisa Pires Ferreira** para participar da II Mostra Anual de Gravura da Cidade de Curitiba.  À artista vem desenvolvendo há algum tempo um trabalho de grande seriedade cujos resultados já foram aferidos e expostos com grande sucesso, em várias mostras nacionais.

Encaminhei a ficha/regulamento no devido prazo.

Sem mais, envio os meus melhores votos para esse importante empreendimento cultural.

 

** Heloisa, que recebeu o Prêmio Fundação Cidade de Curitiba, na referida mostra. 1979

 

                    *Marília Rodrigues

                              Declaração

 

          Declaro, a quem interessar possa, que a gravadora Heloisa Pires Ferreira, estudou sob minha orientação – período de 1972 a 1976 – no atelier de gravura da Escolinha de Arte do Brasil, então sob minha direção.

          Tanto no seu período de aprendizagem quanto, posteriormente, na sua prática profissional, a artista demonstrou grande interesse , aplicação e seriedade de pesquisa.  Estas qualidades podem facilmente ser aferidas através do resultado de seu trabalho, amplamente divulgado através de certames e exposições em todo o país, revelando a artista como um dos melhores valores da jovem gravura brasileira.

* Marilia Rodrigues, gravadora e professora de gravura na Escolinha de Arte do Brasil, em 1979.

 

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                                                                               Augusto Rodrigues*

          Declaro, para os devidos fins, que a gravadora Heloisa Pires Ferreira, exerceu na Escolinha de Arte do Brasil, no período de 1969 a 1971, o cargo de professora do Curso de Atividades  Artísticas para Crianças,  revelando-se como uma educadora de excepcionais qualidades no desempenho de suas funções, sobretudo pela sua dedicação, trabalho qualificado e espírito de colaboração.

          Outrossim, declaro que de 1969 a 1972, fez com grande aproveitamento, vários cursos de extensão cultural organizados pela Escolinha visando ao aperfeiçoamento de professores tendo realizado o Curso; “Arte na Escola”: função educativa e terápica”, curso organizado e executado pela  Escolinha de Arte do brails mediante acordo com a pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RJ – em 1969; o “Curso de Desenho” ministrado pelo artista Sérgio Campo Mello (1970), e o Curso de Xilogravura a cargo do gravador José Altino de lemos Coutinho ( 1970-1971).  A partir de 1972, seguidamente até 1976, freqüentou regularmente o Curso de Gravura em Metal organizado pela Escolinha e ministrado pela artista Marilia Rodrigues, tendo através desse curso revelado toda força de seu talento como gravadora sensível e criativa.

          Declaro também que Heloisa Pires Ferreira participou de Encontro Nacional das Escolinhas de Arte organizado por esta Escola em 1972 e do I Encontro Latino Americano de Educação Através da Arte executado pela Escolinha e promovido, em 1977, pela Sociedade Brasileira de Educação através da Arte- sobreart, ambos realizados no Rio de Janeiro.

*Augusto Rodrigues, desenhista, professor de arte e Diretor Técnico da Escolinha de Arte do Brasil, em 1979.

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                                                                               Anna Letícia*

 

“A arte de um artista deve ser sua própria arte. É, eu creio, exteriormente, sempre uma corrente contínua de pequenas invenções, pequenas descobertas técnicas do artista, na sua relação com o instrumento, o material e as cores.  O que ele aprende significa pouco.  Aquilo que ele descobre tem um valor real para ele, e lhe dá a necessária incitação para trabalhar.  Quando cessa tal atividade criadora, quando não há mais dificuldades ou problemas, externos ou internos, para solucionar, então o fogo extingue rapidamente....”

É um pensamento de Emil Nolde que gostaria de colocar como centro de discussão e referência para esta exposição que Heloisa Pires Ferreira faz na Candido Mendes, com trabalhos desenvolvidos ao longo de dois anos.  São descobertas de processos técnicos diversos do que empregava aproximação com novos materiais e uma entrada violenta no campo da cor. Uma atividade criadora de problemas, procuras e dificuldades.  Heloisa, só havia feito exposições, quer individuais quer coletivas, de gravura em metal, técnica na qual vem trabalhando há mais de 15 anos.  Nos últimos trabalhos de gravura vinha optando pela técnica NA Oficina de Gravura do Ingá, com o gravador Mário Dóglio.  Com uma bolsa que lhe foi oferecida pela Fundação Calouste Gulbenkian teve oportunidade de passar mais de um ano em Portugal, trabalhando na Casa da Gravura e iniciando uma nova relação com outras técnicas e materiais.  A viagem foi oportuna e os problemas se avolumaram, os externos e os internos, e veio à tona uma nova figuração, os novos pássaros – tema desenvolvido ao longo de todos esses anos trabalho – agora inteiramente transmutados, em outras dimensões, ampliados, agressivos, num trabalho de desenho elaborado, maturado, beirando ao obsessivo.  Nesse tempo executou uma série de aquarelas que preferiu não incluir na exposição, optando pelos desenhos e pelos trabalhos em pastel, quando os pássaros transbordam em cores violentas, como violentas são as formas ali desenvolvidas e o impacto de sua  estruturas.  É uma Heloisa solta, sem medo de errar, sem medo de desagradar.  É novo para o público, mas eu me lembro de trabalhos que fazia, antes de iniciar a gravura, de pássaros com recortes de fazendas de cores variadas e que compunham um mundo muito particular e que muito me marcaram, trabalhos sobre os quais sempre me reporto ao longo de nosso contacto.  Uma apresentação de exposição entendo que deva ser um roteiro para o conhecimento do artista, de seu mundo, de seu desenvolvimento.  E esse caminho eu posso traçar porque conheço, o caminho para o entendimento de um mundo muito particular e de descobertas.

“O artista tem um pano de fundo misterioso, onde surgem imagens cujas origens e significados não pode explicar”.

                                                                              

* Anna Letycia, gravadora e Diretora da Oficina de Gravura do Ingá, Niterói, com que Heloisa estudou em 1978,  Apresentação da exposição na Galeria de Arte Centro Cultural Cândido Mendes – Ipanema, RJ – 1982.

 

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                                                                     Flávio de Aquino *

 

          A jovem que expõe na Galeria de Arte do Centro Cultural Candido Mendes, no Rio, inegavelmente faz parte da nova e criativa geração de artistas brasileiros que particularmente se interessa pela gravura e o desenho..  Heloisa Pires Ferreira mostra sua capacidade criativa, aliada a ma técnica minuciosa, detalhadas a te a exaustão.  De uma temática quase exclusivamente dedicada a pássaros e a detalhes de sua constituição física – olhos, penas, picos etc. – ela extrai uma superfície extremamente rica, tátil em suas nuanças, misteriosa em sua poesia, constituída principalmente de desenhos a bico de pena, há uma incrível riqueza de detalhes que só vistos de perto podem ser bem apreciados.

 

*Flávio de Aquino, critico de Arte. Revista Manchete, 1982.

 

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                                                                     Wilson Coutinho *

 

          Na Galeria de Arte do Centro Cultural Candido Mendes, em Ipanema, às 21h, desenhos de Heloisa Pires Ferreira.  Seu tema são pássaros “minuciosamente detalhados, a tal ponto de exaustão que nos permite constatar total domínio da técnica, do conteúdo e da forma.

 

* Wilson Coutinho, crítico de arte  Jornal do Brasil, 1982

 

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                                                                                    Vicente de Pércia*                     

          Heloisa Pires Ferreira      [...] desenhos, Rua Maria Angélica, 37, Jardim Botânico.  Heloisa apresenta a cor como tônica numa seqüência cósmica de seu Ser, é um descer ativando o símbolo Mandalas.  A cor preenche o espaço escolhido em pinceladas contrastantes. Há um gestualismo peculiar trazendo a forma aliada à pigmentação escolhida, diante de uma tarefa coesa e sensata.         

* Vicente de Pércia, crítico de arte, Tribuna da Imprensa, 1983.

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Frederico de Morais *

Iniciativa do Diretor Regional do Serviço Social do Comércio, o Sesc Tijuca está entregando a cidade o Pavilhão de Artes, na qual funcionará em tempo integral oficinas de criação em gravura e cerâmica.A oficina de gravura ocupa uma área de 250 metros quarados  (Rua Barão de Mesquita, 539) e foram projetadas pelos arquitetos Sérgio Jamel e Marco Antonio Coelho e pelo engenheiro Júlio Niskier, com a assessoria de Heloisa Pires Ferreira. [...]

 *Frederico de Morais, crítico de arte. O Globo, 2/5/1984

 

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Fayga Ostrower *

Declaração

                    Declaro para os devidos fins que Heloisa Pires Ferreira é um nome que vem se impondo, por sua dedicação, há mais de 20 (vinte) anos no ensino e na pesquisa da arte.

                    Expõe regularmente dentro e fora do País.  E atua normalmente, como professora de arte, tendo alguns anos seus alunos representado o Brasil em Bienais e recebidos prêmios em salões oficiais.

                    Reconheço sua plena competência para lecionar a nível de Segundo ou Terceiro Grau.

*Fayga Ostrower, aquarelista, gravadora, professora e escritora, 1987.

 

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                                                 Alcídio Mafra de Souza *

          Para os devidos fins, declaro conhecer de longa data Heloisa Pires Ferreira, Artista Plástica, Professora e Pesquisadora de Arte, que há mais de vinte (vinte) anos se vem dedicando, de forma reconhecidamente proeficiente, a seus misteres.  Outrossim, como Artista Plástica, expõe regularmente no País e fora, notória sua capacidade, em todos os campos de atividades  a que se devota.

*Alcídio Mafra de Souza, Crítico de Arte e Diretor do Museu Nacional de Belas Artes, 1987.

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                                                             Geraldo Edson de Andrade*

          Declaro, para os devidos fins, que conheço e admiro há longos anos o trabalho desenvolvido pela gravadora e professora Heloisa Pires Ferreira, não só à frente da oficina de metal mas, igualmente, como Coordenadora da Oficina de Gravura do Sesc Tijuca.

          Como gravadora, Heloisa Pires Ferreira conhece todas as técnicas de gravura em metal, sendo o seu trabalho bastante conhecido e apreciado, razão pela qual, como professora, tem obtido tanta receptividade dos alunos.

*Geraldo Edson de Andrade, Presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte. 1987.

 

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Livio Abramo*

          Tenho a satisfação de dirigir-me a VV.SS, a fim de expor-lhe o que segue:  ...atendendo a uma satisfação que me foi dirigida pela gravadora Heloisa Pires Ferreira que leciona gravura na Oficina de Gravura do Sesc-Tijuca, Rio de Janeiro, relatando-me a dificuldade em que ela se encontra para uma classificação legal de seu “status” como professora de gravura perante a lei brasileira é que venho perante VV.SS. justificar minha presença  no assunto em foco.

         ...que Heloisa já possui uma atividade de comprovado nível artístico com a participação em numerosas mostras de artes coletivas, exposições individuais, ect, assim como pode apresentar uma efetiva atividade de professora e coordenadora  dos cursos de Gravura em madeira e em metal na Oficina de Gravura do Sesc Tijuca, do pleno conhecimento de Vossas Senhorias.

          Conheço Heloisa Pires Ferreira como artista quanto como docente: seus conhecimentos artísticos e técnicos estão comprovados nos resultados realmente positivos que tive a ocasião de verificar pessoalmente examinando os trabalhos dos alunos da Oficina de Gravura do Sesc em visita a essa escola o ano passado.

          Como já disse, e experiência e a capacidade de Heloisa Pires Ferreira independe de um aprendizado feito em uma Faculdade universitária e lhe outorgam obviamente o direito de ser considerada como profissional pelas leis brasileiras.

          Termino, seja-me permitido repetir que o exercício ativo artístico e docente de uma arte confere ao artista uma capacidade e um conhecimento que nenhuma escola ou Universidade pode proporcionar visto como essa sabedoria só se consegue mediante a experiência vivida e direta adquirida pelo artista no convívio constante com o seu trabalho.

          Quem escreve também foi um artista totalmente autodidata e foi suficiente que eu apresentasse à Secretaria de Educação do estado de São Paulo, em 1960, o meu “curriculum vitae” de gravador e as devidas referências  de professor autônomo de gravura para que me fosse concedido o “Título de Professor de Ensino Profissional Livre (Artes Gráficas, História da Gravura, História da Arte) na categoria “D” pela Secretaria mencionada.

          Sem mais, agradecendo-lhes a atenção dispensada a esta, queiram VV.SS, aceitar os protestos de estima e atenta consideração,

*Livio Abramo – Gravador e Diretor do Setor de Artes Plásticas e Visuais do Centro de Estudos Brasileiros no Paraguai, Assunção, em carta aos diretores do Sesc - Serviço Social do Comércio, RJ, 1987.

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                                                                     Walmyr Ayala*

          Inaugurando uma nova galeria no Centro do Rio de Janeiro – Arecip (Av. Rio Branco, 131, 12٥, Heloisa Pires Ferreira expõe a partir do dia 7 uma série nova de gravuras em metal.  Seu ofício já atinge os vinte anos e hoje se acentua a intensidade emotiva de um grafismo plenamente dominado tecnicamente.  Pela incidência do traço surge a textura, plenamente ótica, e não tátil, e a superfície se apresenta como um mapa sensível de percepções visuais que independem dos motivos abordados. Artesã de rara estirpe, artista resistente na heróica técnica da gravura em metal, Heloisa Pires Ferreira não debandou nem traiu sua vocação. Recomendamos.

*Walmyr Ayala, poeta, e critico de arte - Jornal do Commercio, 1988.

 

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                                                           Geraldo Edson de Andrade*

          Heloisa Pires Ferreira é uma gravadora que pertence a geração posterior que se formou no importante Ateliê do Museu de Arte Moderna do rio de Janeiro. Por isso mesmo, uma gravadora que trabalhou, e muito, para manter o prestígio internacional e nacional conquistado pela gravura brasileira, a partir dos anos cinqüenta.

Com sólidos conhecimentos da técnica, Heloisa dominou seu instrumento de trabalho sem prescindir a emoção. Um caso bonito de amor à gravura em metal, que ela, coma sensibilidade que a caracteriza, vai aos poucos transmitindo a uma novíssima geração na não menos importante Oficina de Gravura do Séc Tijuca, na qual é a coordenadora.

         

*Geraldo Edson de Andrade, Critico de Arte e Diretor do Museu do Ingá. Apresentação nas Individuais: Sesc de Barra Mansa, 1988 e Centro Cultural Mato Grosso do Sul, 1988.

 

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* Débora Medeiros

 

O Sesc Barra Mansa abriu quarta-feira as comemorações ppara o segundo aniversário.

Um grande número de pessoas participaram, Às 19h hpras, do coquetel de inauguração da exposição de Gravuras em Metal da artista plástica Heloisa Pires Ferreira.  Artista premiadas várias vezes no Brasil e no exterior, Heloisa tem sólidos conhecimentos da técnica e um completo domínio do seu trabalho formando um harmonioso caso de amor com a gravura em metal, passando para o público toda a sensibilidade de sua arte.

* Débora Medeiros, A Voz da Cidade, Barra Mansa, 1988.

 

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                                                                                Lídia Dely*

 

          Ilustríssima Heloisa Pires Ferreira

 

A Casa da Gravura de Curitiba prevê para o mês de agosto próximo a exposição, ARTSITAS PREMIADOS EM CALCOGRAFIA DAS MOSTRAS ANUAIS DE GRAURA CIDADE DE CURITIBA.

Esta mostra pretende reunir a obra premiada e mais um obra de sua produção recente, visando oferecer um panorama da trajetória do artista permitindo um visão geral da gravura contemporânea.

          Queremos convida-la à participar da mesma e em caso de sua resposta afirmativa, esperamos uma comunicação conosco e se possível o envio dessa obra o mais breve possível para prepararmos o catálogo.

          Atenciosamente

*Lídia Dely, coordenadora Geral do Solar do Barão, Curitiba, Paraná, 1989.

 

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                                                               Geraldo Edson de Andrade*

 

          Heloisa Pires Ferreira há 20 anos dedica-se à gravura quase integralmente.  Com importantes premiações na trajetória, paralelamente desenvolve atividades pedagógica no campo da educação através da arte, além de dirigir desde 1983, a Oficina de Gravura do Sesc Tijuca, de onde tem surgido uma valorosa geração de gravadores.  Na atual mostra; 16 novas gravuras em metal, de técnica madura e riqueza formal.

 

 

*Geraldo Edson de Andrade, crítico de Arte do Jornal Ultima Hora. Individual no Espaço Arecipe. Rio, 1988.      

 

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                                                                               Walmir Ayala*

 

          Heloisa Pires Ferreira inaugura uma nova Galeria no Centro do Rio

 

*Walmir Ayala, crítico de Arte, Jornal do Commercio. Individual no Espaço Arecipe, 1988.

 

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                                                                                                   08/01/1991

                                                           Para Heloisa Pires Ferreira *

          O metal pulsa – animus e anima – assim o ácido, o buril, a androginia originária da mais alquímica das artes. A matéria se transforma o metal vibra,  um pássaro desperta. Seres originais, os pássaros; vêm sempre de algum leste. Nas mãos da gravura há linhas entrecruzadas, um labirinto, um nascente.  As mãos de Heloisa preparam sonhos alados, mundo de outros mundos, canto, desejo e pluma.

          Nascido do azul, AZUL é o pássaro a olhar do alto a terra. Negro é o pássaro ocultado pela noite. Caustico, o útero aquoso que o acolheu num tempo anterior – seu cosmos de origem. Perfeita a cópula que oconcebeu imperfeito – completo e inacabado – talhe e prumo e seu oposto, o vôo invertido demarcado em silêncio.

          Oposição da imagem, a inexistência e presença a vida e seus contrários possíveis, outro reverso na imagem no renascer alquímico – em algum sentido a morte é busca de sentido, mergulho das asas Jô fundo da terra.

          A terra, de baixo contemplada, é uma estrela distante. Lá, ele repousa exangue e exausto.  Receptiva de sonhos é a noite. O metal se percebe feminino, o ácido é sêmen – a vida é o corte -  a cor, lágrima de Narciso sobre a plumagem nascente, matriz de águas  longínquas – correnteza ntre o nada e o caos – entre o vôo e o mergulho.

          Nascido da água, transitivo e especular, pluma e desejo, azul e negro, a transcender o nada e seus opostos. O nado, fuga e reencontro. O rio de seus  devaneios é pássaro e lago – todos os pássaros num só pássaro – um lago ao fundo a solidão e suas raízes possíveis, e o canto ao largo. Corpo sagrado, canto profano, ambíguo, eles nos olhos do fundo de um espelho. Nesse lugar o pássaro é um jardim, flecha vertida pelo acaso. De seu olhar surgem flores de lótus; TRANSITIVO, negroazul – o outro lado da morte – sobre o metal e revê seu duplo, que o imagina único sobre um azul celestial.

                                                           *Mirian de Carvalho

Associação Internacional de Críticos de Arte

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ESPAÇOS PARTIDOS NA GRAVURA DE

HELOSA PIRES FERREIRA

 

                                                                               Mario Barata *

 

Nos últimos quatro anos acompanhei as mostras de Heloisa e sua criação como gravadora em metal, que domina os seus instrumentos de trabalho.  Ela própria imprime as estampas de sua arte elaborada, que já recebeu o apoio de Edith Behring, Lívio Abramo e Anna Letycia, entre outros importantes gravadores em nosso país.

A artista sente uma atração permanente pelas riquezas do grafismo que se já evidenciara na fase primeira de sua arte, expressão em desenhos de traços miúdos formando conglomerados gráficos e representando peixes ou pássaros de sua inventiva.  Ao dominar mais a técnica da gravura, concentrou-se nesta última, aproveitando a água tinta para exprimir-se em cores terrosas de sons profundos, como fundo de linearismos vigorosos, avizinhados estes, em trechos da superfície, a traços marcantes e sensíveis de buril.  Dinamismo e interioridade estão contidos nessas obras.

Agora Heloisa Pires Ferreira passa por uma mutação temática e formal de que a atual exposição é um resultado.  Aqui ainda veremos a fase de “sóis” e galáxias, com núcleos circulares centrando a composição.  Neles a vibração da água tinta é fundamental e a força do buril, no setor em que surge, se exprime com delicadeza.  Todavia também figura nesta mostra a nova fase em que a artista acaba de entrar, fase de sensibilidade ao conteúdo latino-americano, em que consegue exprimir dramas de nossa gente, de maneira pessoal e com signos cartográficos e econômicos, reflexos da difícil vida desta Nossa América.  São esses os espaços partidos da simbologia de base dos países do México e América Central, Antilhas e Sul América, simbologia na qual intervém o grafismo dos traços de buril mais do que uma explícita cartografia.

Na representação simbólica da Venezuela e Colômbia, Equador, Peru e Argentina e na de outras nações que surgem nas gravuras desta recente fase de Heloisa, confirma-se a sua inventividade e os seus caminhos tão pessoais. Dos espaços é mais complexo e chega a ser surpreendente o “Espaço Devastado” (água tinta e buril), que se acha mesmo partido em duas chapas fundamentais e afastadas em retângulos paralelos, tendo havido outras duas matrizes, que foram destinadas a obterem, por superposição, os brilhantes dourados e a cor de sombra desse mundo visual.  Moedas e ouro fixam o ataque do mal do mundo.  A cartografia contribuiu diretamente para a simbologia, estando nessa peça, em um lado, o Brasil e “escorço” da América do Sul.

Do outro lado, toda a América Latina vista do Norte para o Sul, na visão espacial obtida a partir dos EEUU..  Esses impulsos espontâneos e originais de representação surgem agora, na obra da artista, como conquista temática independente de formulações ideológicas, mas profunda expressão de sentimentos e realidades humanas.

É essa mostra, que vai das formas de espaços estelares à formalização de espaços do continente americano, que marca nova mutação da arte de Heloisa Pires Ferreira.

 

 

* Mario Barata, Membro do Conselho da Associação Internacional de Críticos de Arte.  Apresentação da exposição na      Sala Carlos Oswald – Museu Nacional de Belas Artes, RJ – 1992.

 

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                                                           Alexandre França*

 

Pedaços do globo nas gravuras de Heloisa Pires Ferreira – Nas gravuras da artista plástica Heloisa Pires  Ferreira, o Brasil está literalmente de cabeça para baixo.  A América Latina também não esta representada de acordo com a nossa cartografia.  Os mapas da Colômbia, da Venezuela, da Bolívia e da Argentina foram despedaçados para formar um “espaço partido”, título da exposição que Heloisa apresenta a partir da próxima quinta-feira, no Museu Nacional de Belas Artes.

          São 31 gravuras em metal, divididas em dois temas; espaço terrestre e espaço cósmico.  O primeiro se refere ao desmonte da cartografia da América Latina para formar mapas deferentes.  No segundo imperam, sóis, centros gravitacionais e outros elementos de esfera sideral.  Em algumas gravuras, os dois assuntos se misturam, como no caso do “Espaço Partido”.  Nesta, os mapas do Brasil de cabeça para baixo, do sul da América Latina e da América Central giram ao redor de uma rosa dos ventos.

___Em uma gravura, está o mapa do México sobre um outro ângulo e reparei que se assemelhava a um dragão.  Acho que essas figuras estimulam a reflexão.  Nosso olhar costuma tender para a Europa e esquecemos de falar sobre nós mesmos – diz Heloisa.

          Os mapas começaram a se inverter na cabeça de Heloisa a partir de 1977, ano em que ela expôs no Rio Grande do Sul.  A diferença cultural e econômica deste estado como resto do Brasil fez com que se sentisse em outro país.  Depois, ela viajou para a Venezuela, onde a miséria é maior ainda.  No ano seguinte, foi para a Europa e os contrastes ficaram ainda mais nítidos.  Tanto que decidiu transpotá-los para o papel.

          ___Primeiro, as diferenças de um lugar para outro me deixaram muito confusa e mexeram comigo.  Quando os contrastes começam a ficar definidos, fiz alguns desenhos sobre o assunto.  Projetei 50 desenhos de mapas despedaçados até reunir os melhores temas para as gravuras – conta.

          A temática sobre espaços gráficos é um prolongamento dos primeiros trabalhos de Heloisa em gravura. Ela começou a desenhar bichos, que saiam ou entravam em buracos.  A partir desses grafismos, e já interessada nos mapas, começou a pesquisar a cartografia antiga da América Latina.  Nessa época chegou a sonhar com caravelas portuguesas.

          ___Eu sonhei várias vezes com caravelas e moedas.  Por causa disso usei temas que abordam o poder do dinheiro sobre o homem e cheguei às gravuras que tratam da dominação econômica na América Latina.  Mostro também como ela esta dividida por causa da morte de sua cultura – adianta.

          Sucesso em salões nacionais e várias exposições no exterior.

          Atualmente, Heloisa faz mais gravuras do que desenhos, mas não começou sua carreira com nenhuma das duas atividades artísticas..  Na juventude, ela passava quase um dia inteiro pintando em seu ateliê improvisado.  Na realidade, uma casa no meio do mato, em Santa Teresa.  Em, um dos desmoronamentos comuns no bairro, seu ateliê foi junto, com todos os quadros lá guardados.  Traumatizada com a perda, ela resolveu tentar a gravura e começou a ter aulas com Maria Lucia Luz e Osmar Fonseca.

          ___Eu tinha sempre, um tema para pesquisar.  Lembro-me que Maria Lucia pediu para eu desenhar várias pessoas.  Esperava o bondinho passar para retratar os passageiros, só que, às vezes, o bonde descia rápido e eu nem tinha tempo de pintar direito, mas fazia desse jeito mesmo – recorda-se.

          Heloisa mora e trabalha em Santa Teresa. Foi no bairro que ela participou de sua primeira exposição, a “Semana de Santa Teresa’, em 1973.

          Sua primeira individual foi no Rio Grande do Sul.  Depois, vieram exposições no exterior, em Portugal, Equador, China e Porto Rico, além de premiações em salões do Paraná.  Na Europa, fez vários cursos de gravura. Aqui, seu trabalho foi acompanhado por professores particulares. Há 20 anos quando começou a fazer gravura, somente a Escola Nacional de Bela Artes oferecia a especialização, que não lhe agradou por ser limitar ao academismo.

          A exposição, “Espaço Partido” será inaugurada nesta quinta-feira, às 12h, no Museu Nacional de Belas Artes(Avenida Rio Branco, 199). A mostra pode ser vista até o dia 29 de março, de segunda a sexta, das 10h às 17h30m.

 

                    *Alexandre França - O Globo, pág. 35, 1992.

 

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                                                    Mario Margutti*

 

América Dilacerada – “Espaço Partido” é o nome da exposição de gravuras de Heloisa Pires Ferreira que será inaugurada na quinta-feira ao meio dia, na Sala Carlos Oswald do Museu de Nacional de Belas Artes. Utilizando as técnicas de burila, água-tinta e água forte, a artista nos oferece um olhar sobre o dilaceramento da América Latina: os mapas dos países de pernas para o ar, territórios fragmentados com homens se afogando no mar, denunciando o dinheiro, através, de símbolos gráficos, como a raiz de todos esses males.

          Diz a artista: “ Estes trabalhos decorrem de uma pesquisa iniciada em 1981, que começou a ser materializada a partir de 1983. Minha preocupação maior é plástica, mas há um sentido político nesta série: gostaria que todas as pessoas voltassem a pensar na América Latina, em todos os países que se tornaram caóticos e sofridos, nesses espaços partidos que se tornaram nossa vida neste continente.”.

          Um dos trabalhos reflete, na anarquia da composição, a anarquia da vida latino-americana: os mapas dos países apresentados como um quebra-cabeças sem pé sem cabeça. Outro enfoca o sofrimento do povo nicaragüense.  Estrelas e cometas assinalam a dimensão cósmica dessas rupturas vitais.

          Apresentando a mostra, Mário Barata comenta essa bela e espinhosa cartografia:”também figura nesta exposição a nova fase em que a artista acaba de entrar, fase de sensibilidade ao contudo latino-americano, em que consegue exprimir dramas de nossa gente, de maneira pessoal e com signos cartográficos e econômicos, reflexos da difícil vida desta Nossa América.  São Esses espaços partidos da simbologia de base dos países de méxico e da América Central, Antilhas e América do Sul, simbologias na qual intervém o grafismo dos traços de buril mais do que uma explicita cartografia”.

Nascida em Teresópolis, Heloisa Pires Ferreira é professora de gravura da Oficina de Gravura do Sesc Tijuca e já tem mais de 20 anos de carreira. Expôs em Portugal, Equador, China e em Porto Rico – e já foi premiada em salões do Paraná e por sua atuação como professora de arte.

 

* Mario Margutti, Critico de arte –  1992      

Capital Cultural - Jornal do Commercio,

 

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                                              Luiz Carlos Tavares*

 

          Uma criativa visão pessoal das mazelas que atingem o continente americano.  Esta é a temática predominante de 25 gravuras em metal na individual Espaço Partido que Heloisa Pires Ferreira apresenta no Museu Nacional de belas Artes, na Avenida Rio Branco, 199, Centro, amanhã a partir de meio dia.  A artista teresopolitana mostrará suas obras até 29 de março, de segunda a sexta, na Sla a Carlos Oswald das 10 às 17h.

 

                       *O Fluminense, 2ºCaderno, pág. 4 - 1992.

 

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                                                           Mario Barata*

                  

Acha-se aberta ao público, no Museu Nacional de Belas Artes, boa exposição de gravuras de Heloisa Pires Ferreira.

Nos últimos quatro anos acompanhei as mostras de Heloisa e sua criação como gravadora em metal, que domina os seus instrumentos de trabalho.  Ela própria imprime as estampas e sua arte elaborada, que já recebeu apoio e compreensão de Edith Behring, Livio Abramo e Anna Letycia, entre outros importantes gravadores em nosso país.

          A artista sente uma atração permanente pelas riquezas do grafismo que já se evidenciara na fase na fase de sua arte, expressa em desenhos de traços miúdos formando conglomerados gráficos e representando peixes ou pássaros de sua inventiva.  Ao dominar mais a técnica da gravura, concentrou-se nessa última, aproveitando a água tinta para exprimir-se em cores terrosas de sons profundos de linearismos vigorosos, avizinhados estes, às vezes, em trechos de superfície, a traços marcantes e sensíveis de buril.  Dinamismo e interioridade estão presentes nessas obras.

          Agora, Heloisa Pires Ferreira passa por uma nutação temática e formal de que a atual exposição é um dos resultados. Aqui ainda vemos a fase de “sóis” e galáxias, com núcleos circulares centrando a composição.  Neles a vibração da água tinta é fundamental e a força do buril, no setor em que surge, se exprime com delicadeza. Todavia também figura nesta mostra a nova fase em quea artista acaba de entrar, fase de sensibilidade ao conteúdo latino americano, em que consegue exprimir dramas da nossa gente, de maneira pessoal e com signos cartográficos e econômicos, reflexos da difícil vida desta Nossa América. São esses espaços partidos de simbolismos de base dos países de México e América Central, Antilhas e Sul América, simbologia na qual intervém o grafismo dos traços de buril mais do que uma explícita cartografia.

 

*Mario Barata, escreve na coluna “Opinião”; Jornal      do Commercio sobre a exposição, março de 1992.

 

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Antonio Carlos Rocha*

 

          No ano em que se comemoram os 500 anos do descobrimento da América, a artista plástica Heloisa Pires Ferreira acaba de realizar no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, uma importante exposição de gravuras em metal, batizada pela própria de “Espaço Partido”.

          Na verdade, “Espaço Partido” é a América Latina.  É essa nossa América sofrida, dilacerada e espoliada.  É a miscigenação de raças espelhando e expressando, sobretudo, o colonialismo a que fomos submetidos e o neocolonialismo a que estamos subjugados ao longo desses cinco séculos de História.

          Criativamente a artista inverteu a posição dos paizes. O Brasil, por exemplo, está de cabeça para baixo E as demais nações estão soltas, flutuando no espaço, distantes de suas raízes e fronteiras como se fossem corpos celestes fora de órbita e perdidos de suas rotas.

          Paralelamente a este “novo mapa” há todo um grafismo e simbolismo repletos de signos e sinais geoeconômicos-cartográficos evidenciando o maior drama dos povos que se encontram ao sul do Rio Grande (isto é, o rio que separa os EUA do México).

          Heloisa, nos últimos 30 anos, vem se dedicando à gravura e ao ensino dessa nobre arte. Tem várias exposições no Brasil, Argentina, Paraguai, Equador, Portugal, Porto Rico e até...na longínqua China.  Prêmios importantes contam-se no currículo dessa teresopolitana radicada no Rio.

        Espaço Partido” não é apenas mais uma mostra, é uma reflexão sobre o nosso tempo.  Reflexão que merece ser vista em outros estados brasileiros, outros países de nuestra América e até outras nações do planeta.

          Ao todo são 30 gravuras mostrando dois, rosa dos ventos, estrelas, explosões estelares e/ou siderais, símbolos de moedas de alguns países, folhas abismos, buracos, sementes, nascedouros, florestas etc.  Apesar de tudo isso, vemos na obra de Heloisa Pires Ferreira um sinal de esperança e mensagem que nos leva a repensar o nosso passado, refletir o presente e (re)começar a pensar o futuro. Não é uma utopia infundada o que ela nos propõe com esse “espaço partido”, é uma meditação plástica, visual, artística sobre a terra que habitamos.

 

                                       *Antonio Carlos Rocha, professor e escritor apresenta Heloisa no Jornal A Razão, em julho de 1992.

 

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 GRAVURAS NO MUSEU*

 

          Heloisa PiresbFerreira, professora do Sesc, estará expondo gravuras de metal, a partir do dia 27 de fevereiro, no Museu Nacional de Belas Artes, na Sala Carlos Oswald, com entrada pela rua México, 31. A exposição termina a 29 de março.

          Heloisa assessorou a equipe e arquitetos e engenheiros no planejamento e na montagem do Atelier de Gravura de Metal do Sesc –Tijuca, em 1983.  Coordenou os trabalhos da Oficina por 8 anos, convidando diferentes professores para orientarem cursos de desenho, xilogravura, gravura em metal e monotipia.  Procurou-ser questionar as artes visuais na comunidade.  A Oficina de Gravura do SESC Tijuca possui hoje 16 prêmios nos principais salões oficiais e dois gravadores representaram o Brasil em Porto Rico e na China.

 

Jornal Sesc Rio – ano XVIII – 207 – 1992.

 

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                                                                     Suzana Carolina*

 

          “Eu acho a Europa, em matéria de arte, parecida com uma  senhora cansada, daquelas que já viram de tudo.  Lá(na Europa) se encontra arte em qualquer lugar; nas ruas, calçadas, móveis, não há uma enorme pureza, uma coisa bruta a mistura de luxo do homem com o luxo da natureza’.

          Assim a artista plástica Heloisa Pires Ferreira compara a arte brasileira e dos países desenvolvidos. Com a experiência de quem passou um ano e meio fora do país, HPF, não deixaria o Brasil.  Para ela o espírito do povo daqui não se encontra em nenhum outro lugar. “Lá fora as pessoas são frias demais”, diz, sem contar a saudade da família, dos amigos, do guaraná....

          Nascida em Teresópolis, mas moradora de Santa Teresa desde os 9 anos, HPF tem uma relação muito especial com o bairro, pois foi através de seus moradores que descobriu sua paixão pela arte e sua profissão.  Desde pequena teve grande inclinação para o desenho, mas foi através de seus visinhos e amigos da família como Maria Lucia Luz e Osmar Fonseca (também dois artistas) que recebeu incentivo.

          Aos Quinze anos, acompanhando um projeto de Maria Lucia, se descobriu dando aulas de arte para os moradores do Morro dos Prazeres, todos os domingos. “Eu nunca tinha ensinado antes e não ganhava nada por isso, porém era adorável ensinar as crianças o que era arte; fazíamos isso através de filmes, cursos de artesanato em geral, sem nenhuma conotação política. Apesar disso, fomos obrigados a parar com os trabalhos por causa ditadura”.

          Esta experiência com a população carente foi tão importante que resolveu prestar vestibular para Serviço Social. Entrou na Faculdade e de lá saiu correndo. “Fiquei super decepcionada. Não agüentaria terminar o curso. Então resolvi trancar a matrícula e nunca mais voltei”. Depois disso, resolveu “levar a sério” sua paixão pelo desenho, fazendo cursos livres na Escola de Artes do Brasil, a princípio aprendeu xilogravura (arte e fazer desenhos em madeira). A gravura em metal, hoje sua especialidade, veio depois.

          Heloisa conta que a partir da experiência na favela, sempre procurou ensinar. Durante um  ano lecionou arte em um,a escola de método antroposófico, que prioriza a mente, a sensibilidade e também fazia programas específicos para professores, onde incentivava o proceso de criação, explicando o que  era “criar”.

          Em 1976, ganhou seu primeiro prêmio em uma exposição. “As coisas acontecem meio por acaso, eu estava preparando uma exposição para o Rio Grande do Sul, patrocinada pela Aliança Francesa de lá. Um amigo que ia expor comigo me aconselhou a mandar algumas gravuras para o “Salão Casa da Bahia”, enquanto não íamos para Porto Alegre. Pois é, na Bahia acabei ganhando o prêmio”. 

          Até hoje, Heloisa já participou de oito Salões Oficiais de Gravura e de 72 exposições coletivas. Atualmente, é Coordenadora da Oficina de Gravura do Sesc da Tijuca, onde, inclusive, assessorou a equipe de engenheiros e arquitetos no planejamento e montagem da oficina.

          Seu projeto mais recente é uma Mostra Itinerante comemorativa dos 10 anos do Sesc, que, além dos trabalhos de Heloisa, reúne obras de outros nove artistas. A exposição passou por Nova Iguaçu, está em Barra Mansa, em junho vai para Teresópolis e em 30 de agosto chega na Uerj.

          Heloisa também é professora de arte do Colégio Andrews, escola de primeiro e segundo graus que considera ser a mais séria no campo de artes plásticas.

          Nesse ano de eleições, HPF espera que os políticos realmente se preocupem com o Brasil, principalmente, na questão social.  Acha muito triste ver tantas crianças na rua, sem que haja um projeto sério de educação.  Ainda não escolheu seu candidato à presidente, mas não votará em branco.  “Quero escolher alguém, preciso acreditar.  Este é o País onde eu vivo, e contribuir para que ele saia da lama é uma obrigação minha e de todos os brasileiros”.

 

                                       * “Gente de Santa: Heloisa Pires Ferreira”

 Folha de Santa Teresa, pág 11, junho – 1994.

 

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 Mario Barata*

 

METAMORFOSES E OCORRÊNCIAS DA GRAVURA DE HELOISA

 

A mostra desde novembro, na bela Galeria de Arte do Sesc Tijuca é o ponto mais elevado de um ciclo de exposições de Heloisa, organizadas pelo Sesc-RJ, apresentando uma panorama seletiva de arte criada pela conhecida gravadora em 25 anos de atividade. Após as exibições em Teresópolis e Petrópolis, a entidade regional nos presenteia com a exposição final desse ciclo, em 1995, na própria cidade do rio de Janeiro, no mesmo local em que em setembro foi lançado o importante livro “Gravura Brasileira hoje – Depoimentos”, planejado e coordenado pela citada gravadora que dirige, com sucesso, a Oficina de Gravura do Centro de Atividades do Sesc Tijuca e a ambos dedicou o entusiasmo que caracteriza sua personalidade.

Vista no conjunto, a obra de Heloisa marca uma unidade que não é produto de simultaneidade de criações – já que se apresenta aqui seleção distribuída por um quarto de século – mas de recorrências do imaginário da artista, como estrutura, inserido em transformações e metamorfoses, que se recuperam umas às outras. A fantasia livre e mesmo “fantasmagórica” de vegetais e pássaros, os ornatos que são olhos ou estrelas, inclusive em caudas de pavões, são expressão de um grafismo com claro escuro, exuberante, e então no meio do ciclo, se ligando aos céus estelares do final, à cartografia latino-americana de 1990 a 1994 e à liberdade do conglomerado envolvente de estrelas no “Paraná”(1994) e aos “sóis” minúsculos de 1995 (diferente do sol monobloco – imagem e concentração – de uma de suas mais conhecidas gravuras do início da década). Sólida ou quase iridescente é a sua gravura atual, moderna e bem pessoal, que colocou Heloisa Pires Ferreira entre as afirmações maduras de nossos gravadores (desde a época de Oswald-Goeldi-Lívio Abramo). Heloisa já estudou com Maria Rodrigues, Anna Letycia, José Altino e com litógrafos portugueses, estes em Lisboa.  A sua formação em desenho percorreu os olhares de Maria Lucia Luz, Zaluar, Osmar Fonseca. Como é hoje freqüente em artes gráficas, ela ultimamente já utiliza processos em metal seguidos e intercalados a usos xilográficos, nas técnicas amplamente mistas em que os gravadores agora exibem o seu virtuosismo.

Os seus 25 anos de arte não são pois um período essencialmente de mudanças, ao contrário do que ocorreu com muitos artistas do início do século.  Diversamente, por exemplo, do alemão C. Schad mudou para um figurino peculiar ao ciclo da nova-objetividade dos anos 20.  Não é só a idade que conduz à mudança (ou a impossibilidade). Em Turner, a “outra-imagem” não foi nada tardia, chegando ele bem cedo ao que ficaria sendo o seu estilo pessoal. Segall e Portinari atingiram um estilo de maturidade através de sua própria evolução, mas esse fato importante não é o único a marcar um caminho artístico.

Fez bem a hoje importante Galeria do Sesc na cidade do Rio de Janeiro em culminar a homenagem da entidade e dos meios artísticos do Estado a sua generosa colaboradora da notável Oficina de Gravura.  Provou que o tempo passa, mas que os observadores não só contemplam essa passagem inexorável, como lhe dão os devidos significados de criação e difusão da cultura.  Uma nova Heloisa afirmou-se na estabilidade, decididamente, no cenário de seus 25 anos de arte.

 

·       Mário Barata, Professor Emérito de História da Arte da UFRJ, membro do Conselho Diretor da Association International des Critiques d’Art, em Paris. Exposições nas Galerias de Arte dos Sesc Teresópolis, em maio, Sesc Petrópolis em agosto e no Sesc Tijuca em novembro de 1995.

 

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OS TREZE SÓIS COMPLEMENTARES

                                                                    

Mirian de Carvalho *

 

O artista de gravura é um pastor errante. Tem por tarefa reunir diante dos nossos olhos o seu rebanho em fuga

                                      

                                                                    

Na gravura – a mais alquímica das artes – a mão trabalha um sonho e em vigília. A mão é imageante, sonhadora.  Sonha uma natureza expandida em novas imagens.  Em vigília, realiza um mundo ao mesmo tempo uno e múltiplo: um cosmos em fuga reunido diante do nosso olhar.

          Ao contemplar a gravura sonhamos no uno o múltiplo, na pluralidade a unidade: eis que se desvela o percurso da arte de gravar.

          Para realizar tal metamorfose, ao longo dos seus “Vinte  e Cinco Anos de Gravura”, Heloisa Pires Ferreira vem acumulando experiências de transmutação da matéria na xilogravura e na gravura em metal.

          Algo as diferencia: a matéria.  Algo as reúne: a imagística. A imagem na gravura é a fusão do sonho e da vigília a ultrapassar, poeticamente, os motivos “abstratos” e “figurativos” do cotidiano e da natureza.

          Em tal ultrapassagem nada é abstrato porque a matéria adquire vida sensível.  Nada é cópia porque a arte instaura uma nova realidade, um novo ser.

          Nessa mostra, pedaços do planeta Terra são pássaros saídos de dentro do metal. Ganham liberdade de horizonte.

          Outras aves aninham-se nas pranchas e no papel à procura de um ninho originário – ovo alquímico – ritmado e pulsante.  Pulsa em cada imagem uma fuga de um ponto central em busca de algum outro centro.

          No ninho originário – imagens impregnadas de ácido ou de celulose – tensos arcos, formas curvas são sóis e luas, cristais emergentes, traçados metálicos ou incisões vegetais. São formas que se dinamizam no uso e no múltiplo: na cumplicidade de um percurso a se distanciar de um centro fixo. As imagens insuflam novos vetores em vórtices de expansão.

          Nesta errância, o Pedaço da América Azul é também a Bahia, é a terra do homem, um é o outro: dragão e pássaro.

          Toada ave, toda imagem foi e é uma curva, um sol – que é e foi um olho, uma folha, uma lua, uma nova imagem.

          Formas e cores inventadas, todas elas têm nervos, têm mãos a nos tocar ao serem contempladas.  Cada uma destas imagens é o seu conjunto: desenho, gravação, espelho.

          Nessa reunião de gravuras a chamaríamos “Os treze sóis complementares” conjugam-se todas as fases do trabalho da gravadora: xilo e metal, mão e matéria, sol e lua, noite e dia, pássaro e homem.

          Sonho de imagem, vigília de imagem, elas fogem de dentro de seu próprio centro.  Surge do primeiro traço na matéria de onde jorram centrífugas, de onde se lançam a outra margem que as complementam no rastro das aves e dos astros.

 

*Mirian de Carvalho, professora de filosofia da UFRJ, poetiza e membro da Associação Internacional de Críticos de Arte. Exposições nas Galerias de Arte dos Sesc Teresópolis, em maio, Sesc Petrópolis em agosto e no Sesc Tijuca em novembro de 1995.

 

 

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                                                 Paula Miller*

 

          A gravura do Brasil começa a contar sua história a partir de hoje, com o lançamento, às 18h30m, no Sesc Tijuca, do livro **“Gravura Brasileira hoje – depoimentos”.  Uma compilação de entrevistas de seis grandes nomes desta técnica no país, o livro foi composto por uma equipe liderada pela coordenadora de artes do Sesc, Heloisa Pires Ferreira.

          Começamos a pensar em registrar a história da gravura no Brasil há 11 anos – diz Heloisa – Por isso, já naquela época, o historiador Adamastor Câmara começou a fazer as entrevistas.  Com sua morte, no meio do percurso, tivemos que parar mas, com a ajuda de uma equipe pudemos retomar o trabalho.

          Nomes como Anna Letycia, Antonio Grosso, Carlos Scliar, Dionísio Del Santo, Edith Behring e Marília Rodrigues – os artistas selecionados para o livro – são fundamentais, segundo Heloisa, para contar a trajetória da gravura no Brasil.

          __Os artistas foram pensados em função da versatilidade de técnicas com que trabalham – diz Heloisa, destacando a predominância da xilo e da gravura em metal, entre essas técnicas.

          __Um dos pontos altos do livro são depoimentos de Edith Behring que, no fim da década de 50, retorna ao Brasil, depois de uma temporada na Europa, para organizar no MAM a oficina de gravura.

          Também hoje, no Sesc Tijuca, será inaugurada uma exposição com as obras de artistas presentes no livro.

 

                                       *O Globo – Rio Show - 1995

          ** Outros dois volumes, organizados pela mesma equipe, com entrevistas de outros 24 gravadores, foram lançados, respectivamente, no mesmo local, em 1996 e 1997.

 

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                                                                               Mario Barata*

 

          Publicações do Sesc-RJ [...]  Uma edição especialmente da Oficina de Gravura do Sesc-Tijuca, será lançada no próximo aniversário do Sesc, no País, ao iniciar-se o ano simbólico do cinqüentenário, que se comemorará de 1995 a 1996. Trata-se do Livro Gravura Brasileira Hoje/Depoimentos, com testemunhos dos artistas Anna Letícia, Antonio Grosso, Carlos Scliar,, Dionísio Del Santo, Edith Behing e Marília Rodrigues. Os responsáveis pelo inquérito – que abrangeu também outros gravadores, que merecerão volumes à parte na seqüência de atividades culturais do importante órgão de serviço social no País – foram diretamente os organizadores do livro, Heloisa Pires Ferreira e Maria Lucia Luz Távora, unidas ao trabalho prévio de Adamastor Câmara, este na gênese do projeto e nas entrevistas que fez, todos apoiados pela direção do Sesc-Regional.  Aliás a atividade de oficinas de criatividade é expressamente prevista na área de cultura e lazer, no campo de serviço social da entidade. O volume comemorará mais de 10 anos de atuação da referida oficina de gravura, situada em centro de atividades na tradicional Rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro.

 

*Mario Barata, escritor e historiador.  Jornal do Commercio, 18/8/1995. Página A8.

 

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                                                                     Claudia Miranda *

 

          “Prima pobre” das artes plásticas no Brasil, por ser feita em papel, a gravura ganha importante destaque no campo literário com o lançamento...[...]  Já “Gravura brasileira hoje – depoimentos” conta a história da técnica através da experiência de importantes gravadores , como Anna Letycia, Antonio Grosso, Carlos Scliar, Dionísio Del Santo, Edith Behing e Marília Rodrigues. “Existe uma carência de bibliografia sobre o assunto. Por isso, resolvemos reunir pessoas cuja obra tem um papel fundamental para o desenvolvimento dessa arte no país,  Além disso, esses artistas ajudaram na formação de novos gravadores”, depõe Heloisa Pires Ferreira, coordenadora do livro e da Oficina de Gravura do Sesc Tijuca.

          A edição não só explica como se faz gravura, como também reúne as principais obras dos artistas envolvidos com o projeto. “O livro é importante porque marca os vários momentos da gravura brasileira. Enquanto a Anna Letycia, por exemplo, fala da circulação das obras nas galerias, Edith Behing conta história da oficina do Museu de Arte Moderna do Rio que nos anos 60 foi um pólo revolucionário da arte”, diz Heloisa, adiantando que no dia do lançamento da edição no Sesc Tjuca será inaugurada uma exposição de gravuras.

*Tribuna da Imprensa  Tribuna Bis, página 2, 29/8/1995.

 

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                                                                     Heloisa Pires Ferreira *

 

          PAZ E VIDA 

 

No centro está o sol.  O sol ilumina ávida.  A vida é o próprio universo-(multi)verso. Ecossistema onde estão envolvidas formas diversas, poéticas de vida.  De ser, do Ser.

          Em torno, no espaço infinito cintilam-flutuam estrelas, formas múltiplas geometrizadas.  Pedras preciosas, planos e dimensões da existência.

          Cada forma de vida, por mais simples que seja, é uma pedra-estrela, que precisa brilhar para iluminar a si mesma e aos demais em uma interdependência cósmica.

          Em cada lado, pássaros esvoaçam plumagens, penugens, sugerindo alegria, felicidade, paz.  Dois pássaros, os dois lados de todos nós.  O lado interior e o lado exterior.

Vento, sopro, respirar. Ar puro.

*Painel da Paz,

Usina da Cidadania,

       0,60cm x 4,40cm, 1999.

 

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                                                                     Heloisa Pires Ferreira*

 

Eu mesma, nascida numa família de elite, tinha como espelho meus pais, donos de uma consciência política invejável. [...] O questionamento dos valores da vida era colocado à mesa todo dia, discutíamos esses valores.  Era muito natural, então que sendo uma pessoa sensível, apaixonada pelo desenho e pela pintura, me deixasse envolver com as questões da favela vizinha a minha casa [...]

 

Foi em 1966 que veio a proibição de continuar utilizando o espaço das favelas para questionar coisas.  Então de desliguei. [...] Fui para São Paulo, trabalhar na Escola Antroposófica.  Voltei, fui dar aulas na Escolinha de Arte do Brasil, com Augusto Rodrigues e Noêmia Varella.

 

Mas o fato de ter trabalho com os jovens favelados, mexeu muito com a minha cabeça.  Eu via todas as pessoas irem fazer faculdade, levando adiante os estudos e tal, eu só me animava a desenhar e pintar. [...] Fiz vestibular para serviço social, uma coisa interessante...Cheguei a passar para a faculdade e não suportei. [...]  Como eu gostava de tocar flauta na mata, isto é, tinha tanto prazer com isso como pintar e desenhar, surgiu a possibilidade de eu ir dar aulas numa escola em São Paulo, na Rudof Steiner.  Lá, eu dava aulas de arte para as crianças no período da manhã e recebia aula de pintura à tarde.  Fiz escultura, mexi com minha voz, aperfeiçoei a flauta, aprendi tapeçaria, carpintaria e xilo. [...]  Quando voltei, fui imediatamente dar aulas na Escolinha de Arte do Brasil e fazer xilogravura com José Altino. Nesse tempo trabalhei com Alberto Ribas, fazendo expressão corporal e teatro, usando o corpo como base de expressão. [...]  Até que,  conversando com Maria Rodrigues, ela me disse: “Volte para a Escolinha para  fazer gravuras em metal. Você vai encontrar o José Paixão, o José Altino, a Cida Pimenta...” Todos eram meus amigos e, seguindo o conselho, mergulhei de corpo e alma. Convivemos praticamente cinco anos. [...] Marilia Rodrigues  estava  sempre dando força, trazendo novidades quando voltava de seus cursos em outros estados.

 

Tive umas aulas de desenho com Abelardo Zaluar e imprimi na casa da Edith Behring todos os sábados durante um ano.

 

Essa experiência foi fantástica: ela precisava, por causa da idade avançada, de um impressor que fosse calmo e não a perturbasse.  Minha gravura é muito minuciosa, sou “alta estação” e, ao mesmo tempo, profundamente concentrada. [...] A cada sábado, ela me dava chapas diferentes para imprimir e eu aprendia muito.  Terminei recebendo um senhor curso de gravura! [...]  Sempre usei duzentas mil ferramentas.  De ácido, só o percloreto, com a chapa virada para baixo para dar certos efeitos.  E ninguém pode mexer, senão não dá a renda lindíssima na textura da chapa.  Na escolinha eles diziam que aquilo precisava de paciência chinesa.  Isso pode ser fruto da meditação, pois eu já fazia meditação antes de fazer gravura. [...] Para mim, análise, arte e meditação têm muita coisa em comum. [...]

 

De repente, começaram a surgir figuras humanas, sempre ligadas a algum centro.  Os labirintos desapareceram, surgiram no lugar deles as figuras em busca de um centro e depois começaram a vir bichos que iam para algum centro também.  Eram uns pavões bem elegantes e todos cheios de penugem. [...]  Eram pássaros imensos, todos cheios.  Sempre havia centros em volta e esses centros se tornaram centro mesmo.  Depois eles se tornaram sóis e luas.  Eu tinha gravuras Sol Negro, Sol Vermelho, Sol Amarelo. [...] Os bichos começaram a ficar quase sem plumagens e as plumagens se transferindo para galhos que surgiam interferindo com os bichos.  Esses bichos continuaram, desapareceram todos os galhos, ficaram sozinhos e ficaram os sóis sozinhos.  Comecei a trabalhar nos sóis que apareceram em céus. [...] Esses sóis se expandiram no espaço.  Falei da morte da América Latina, com suas divisões, dilaceramentos e incomunicabilidade, quase todos os países chorando o sofrimento de seus povos sob o domínio da ganância do poder, tendo o sol como símbolo de vida e de esperança. [...]

 

Ganhei a Bolsa de Viagem e Estudos para Portugal, pela Fundação Calouste Gulbenkian. [...] Na verdade, o prêmio significou muito mais a possibilidade de eu sair daqui, ir para Portugal, um país recém-saído de cinqüenta anos de ditadura militar. Entendi muito claramente o que seria a “cultura do silêncio”. Lá ninguém era capaz de dizer para você “eu gosto disso” ou “não gosto disso” porque ninguém sabia para que lado a coisa ia, ficavam atônitos, indecisos. [...]

 

Quando voltei da Europa, Ubiratan Corrêa**, me procurou para a implantação da Oficina de Gravura  Sesc Tijucas.  [...]

Por sermos do Terceiro Mundo – e comparando nosso país à Europa, onde havia estão há pouco tempo - ,ficou bem claro para mim o fato de não termos registrada uma história da gravura. Praticávamos a cultura do silêncio; prestigiávamos os europeus, os norte-americanos..... [...]  Assim, quando Adamastor Câmara [...] começou a entrevistar a série de gravadores atuantes no Brasil,fiquei esperançosa de alcançar meu objetivo. Os encontros com os artistas sempre deram ensejo a que passássemos à comunidade o interesse em conhecer o processo da gravura. Promovemos exposições e convidamos a comunidade para encontrar os gravadores. 

 

O orientador até pode encaminhar a sensibilidade da pessoa que tem vontade e trabalhar com arte, mas o interesse das pessoa em pesquisar, gostar e dedicar um tempo de sua vida para se encontrar e depois poder falar das questões da sensibilidade, isto está fora do alcance de qualquer professor. [...]

 

O aparente inútil do resultado em arte está repleto de trabalho; escolha do material, das formas, das linhas e do sentido que se quer dar.  Esse planejamento carregado de idéias não verbalizadas, mas sentidas, é que vai harmonizar o indivíduo e faze-lo encontrar suas formas particulares de expressar esta linguagem emocional.

 

O individuo só se harmonizará se trabalhar o concreto dessa emoção. Mas isso escapa do professor, pertence exclusivamente à condição do isolamento do homem consigo, independente do outro.

 

Nas oficinas coletivas, corre-se o perigo da imitação e todos terem os trabalhos semelhantes, com o traço tornando-se a marca do ateliê onde se trabalha , seja acadêmico ou contemporâneo.

 

Na verdade não se cria, apenas multiplica a proposta do idealizador.

 

Trabalhar é bem diferente de repetir o outro.  Ao engajar-se numa linguagem individual, particular e única o indivíduo começa a fazer parte da realização concreta de jogar para os bloqueios que o impedem de raciocinar livremente.  Quanto mais ele se afasta do pronto, do bonitinho, do enfeite, ele se tornará um ser pensante, cidadão do mundo.

 

Mas, sempre é possível trabalhar coletivamente quando se está consciente deste perigo e a criação seja o objetivo principal.

 

                                                               * Heloisa Pires Ferreira é

                                                  entrevistada por Adamastor Câmara

                                                  em  22/8/1986 e por Maria Luiza

                                                  Luiz Távora em 2/8/1997- Livro III

                                               “Gravura Brasileira Hoje Depoimentos”

                                               Sesc Tijuca, foi publicado em 1997. 

 

** 1983 - Ubiratan Corrêa, diretor Regional do Sesc Rio

 

 

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Gravura Moderna Brasileira no MNBA*

 

          Heloisa Pires Ferreira, 1943.  Nasceu em Teresópolis, Rio de Janeiro.  Estudou desenho com Maria Lucia Luz, Abelardo Zaluar e Osmar Fonseca: xilogravura com José Altino e gravura em metal com Marília Rodrigues, Edith Behing e Anna Letycia.  Em 1977, fez sua primeira individual no Palácio Farroupilha em Porto Alegre. Em i977 e 1982, recebeu prêmio de “Aquisição”, no Salão Carioca de Artes.  No ano seguinte, passou mais de um ano em Portugal, trabalhando na Casa de Gravura em Lisboa. Participou de várias coletivas no Brasil e no exterior tais como: Bienal de San Juan del Grabado-Porto Rico, em 1979 e 1981 e Trienal del Grabado da Argentina, em 1979, entre outras.  Fundou em 1983, a Oficina de Gravura do Sesc Tijuca, sendo também sua coordenadora e orientadora.  Fez capas de livros, revistas e jornais; participou da organização do livro “Gravura Brasileira Hoje Depoimentos”, Sesc em 1955.  Neste mesmo ano participou da Exposição “Quatro Gravadores”, no Centro Cultural Cândido Mendes, Ipanema, Rio.

 

“Na mais alquímica das artes – a mão trabalha um sonho e em vigília. A imagem na gravura é a fusão do sonho e da vigília a ultrapassar, poeticamente, os motivos “abstratos” e “figurativos” do cotidiano e da natureza.(...) Em tal ultrapassagem nada é abstrato porque a matéria adquire vida sensível.  Nada é cópia porque a arte instaura uma nova realidade, um novo ser. Toda ave, toda imagem foi e é uma curva, um sol – que é e foi um olho, uma folha, uma lua, uma nova imagem. Cada uma destas imagens é o seu conjunto: desenho, gravação, espelho. Sonho de imagem, vigília de imagem, elas fogem de dentro de seu próprio centro.  Surge do primeiro traço na matéria de onde jorram centrífugas, de onde se lançam a outra margem que as complementam no rastro das aves e dos astros.”

 

*Mirian de Carvalho, Associação Internacional de Críticos de Arte. Catálogo da Exposição: “Os Trezes Sóis Complementares”, na Galeria de Arte do Sesc Tijuca em novembro de 1995.

* Mostra Rio de Gravura, Catálogo Geral, página 96, Sol Bistre, 1989.  Acervo do Museu Nacional de Belas Artes, 1999.

 

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                                                                     Chico Alencar *

 

MOÇÃO      

 

Solicito à Mesa Diretora, na forma regional, seja registrado na Ata dos Trabalhos desta Casa de Leis nosso Voto de Congratulação a Heloisa Pires Ferreira – Gravura em Metal - Heloisa  Pires Ferreira é Teresopolitana e assessorou a equipe de Arquitetura e Engenheria na montagem da Oficina de Gravura do Sesc Tijuca.

          Orientadora dos trabalhos de gravura comemorou os quinze anos da Oficina com o lançamento de seu baralho “Arcanos na Gravura”.

          Obteve inúmeros prêmios, inclusive bolsa de viagem do Instituto Calouste Gulbenkian, em Portugal.

          Participou de várias exposições coletivas e individuais  no Brasil e no exterior, e coordenou um importante livro de gravuras (3 volumes) editado pelo Sesc, como título GRAVURA BRASILEIRA HOJE DEPOIMENTOS.

          É citada em muitas Publicações e Dicionários.

          Pela sua luta em favor das Artes Brasileiras, Heloisa Pires Ferreira é merecedora das nossas homenagens.

          Parabéns

          Plenário Teotônio Vilela, Setembro de 1999.

 

*Chico Aguiar – vereador – Câmara Municipal do Rio de Janeiro -

         

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Leon Kossovitch e Mayra Laudanna*

 

Admirável, a gravura de Heloisa Pires Ferreira: do gênero alto, epiríco, ela acolhe a duplicidade que, habitualmente formulada como oposição, pertence contudo a uma única vidência.

Para lá da divisão entre o cósmico e o político, a intermetalização: descrevendo o sol que se metamorfoseia em cores e seres, Heloisa exibe a multiplicidade devinda como anelante de unificação não da unidade de que procedeu, mas da que está por vir.  Sóis, luas, pavões,  ramagens,  que devem,  ora como agregações, ora como metamorfoses, são efeitos, metaforicamente,  da expansão  e retração cósmicas, irisando-se, a um tempo, metafísica e moralmente.  O Múltiplo anseia pelo Um como Múltiplo não é, porém, obra do ódio ou da injustiça, mas devir, devir do próprio amor, enquanto provindo de muitas faces, que, do sensível, contempla o perfeito semblante de Um.  O discurso cósmico é imediatamente político como alegoria do que Heloisa Pires Ferreira denuncia na América Latina, o ódio, a injustiça,  que produzem uma unificação  sádica,  exemplar na canalha chafurdante, mas não menos uma divisão perversa, operada pela mesma canalha do Bocaça nativo,  porque aí,  sem medida.  O que se propõe na alegoria e na gravura que delicadamente expõe os aspectos da metamorfose é o desejo em conflito com a violência: em Heloisa, a estética e a moral cruzam-se na gravura, contemplativas e ativas a um só tempo.

*Leon Kossovitch, Professor Doutor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – USP e Mayra Laudanna, Professora Doutora de Teoria da Gravura, do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, IEB – USP. Exposição Itaú Cultural e texto do livro “Arte Brasileira do Século XX” – Itaú Cultural – 2000 – PÁG 22, São Paulo, SP.

 

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                                                                     Marilene Chauí*

 

          “Sol Negro, de 1978, gravura de Heloisa Pires Ferreira que serve como exemplo visual de silogismo: o quadrado externo seria a premissa maior e o círculo negro, a premissa menor. No centreo a conclusão”.                                            

 

*Marilene Chauí, em 2003, no livro “Convite à Filososfia”, editora Ática, teve como capa uma gravura da artista.  Na página 110, ao falar de Silogismo, o texto é ilustrado novamente com a gravura e a legenda.

 

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                                                      Mayra Laudanna*

                                                                                                                    

             “Defensora da liberdade em arte e da ética em política, Heloisa põe seu engajamento em evidência. Empenhada em uma arte que faça o ser humano expandir-se, Heloisa não tem como opostas suas idéias místicas e as políticas. Ao contrário, une-as em símbolos que visiona quando, como explica, medita. Essa busca em Alfa, que lhe permite ver milhares de idéias das quais só pedacinhos são levadas para a gravura, é processo que a acompanha desde os finais dos anos sessenta. Nessa época, Heloisa lutava pela paz com seus mapas em que a geografia se apreende, muita vez, como zoologia fantástica. Opta, mais tarde, por figurar sóis, sozinhos, em águas-tintas, ora pretas, ora brancas, que alegorizam o astro instado a iluminar políticos. Expandindo-os, os sóis passam a alegorizar, para Heloisa, o centro sutil do homem. Daí serem feitos por traços finos de buril, que constroem um centro e giram centrifugamente, a lançar o olhar do observador no espaço. Alegoricamente, as radiações dos seus sóis, como as do verde deste álbum*, são vibrações que tocam a gama vasta da alteridade, iluminando-a. 

 

*Mayra Laudanna. (Professora Doutora Teoria da Gravura, USP). Apresentação do álbum “Gravura em Quatro Tempos” em Muriaé, MG, 2003

 

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                                                           André Ricardo *

 

          .... Dentre os trabalhos da carioca Heloisa Pires Ferreira, desatacam-se imagens da Natureza vista de acordo com o seu modo de pensar. Tentando trazer em seus trabalhos a cultura da América Latina e indígena, a artista plástica desenvolve um estilo próprio, onde o modo de pensar e agir vão de mãos dadas com sua criatividade.  Sem ter um movimento artístico a seguir.  Heloisa sente-se à vontade para “criar com o seu coração”.  Dentre suas apresentações estão os lançamentos “Entrevista de Artista”, em São Paulo – 2001, e Investigações – A Gravura Brasileira  do Século XX – 2000/01.

 

*André Ricardo, crítico de Arte comenta na Folha do Sudoeste – 28/março/2003 – Edição 82. Muriaé, Minas Gerais.

 

 A Fundarte em conjunto com a Lei de Incentivo à Cultura trouxe para Muriaé uma das mais surpreendentes exposições já exibidas na cidade, Gravuras em Quatro Tempos.

 

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Leon Kossovitch  e Mayra Laudanna*

 

Tendo superado a treva do silêncio, Heloísa Pires Ferreira acede a uma fala luminosa: registrado em entrevistas e depoimentos, seu discurso tem a dimensão, hoje pouco considerada, da narração, cujo sentido se entretece com o sentido de sua arte. Sem reduzi-la ao ilustrativo, a narração, no discurso, tem o sentido ficcional de sua obra, enquanto esta narra, em jogo de espelhos, a narratividade a ambos comum.

Da ficção, o discurso não se impõe, portanto, à arte, instrumentalizando-a, nem se restringe à sua explicitação, o que produz uma conceituação muita vez surpreendente. Pois, no discurso de Heloísa, constroem-se duas ficções, a da narração, em que a autobiografia ficcionaliza a reflexão política, mística ou filosófica, a qual, em sentido inverso, recruza-a, trazendo-a para a ficção nos traços de retrato que efetua; não há, nessa dupla narração, fechamento, uma vez que, além das idas e vindas do sentido entrecruzado, ressalta uma terceira direção, a da prática, em que o ensino, sempre inconcluso, insiste, exemplar, na fala da artista.

A gravura e o bordado são as direções dominantes da pesquisa de Heloísa: por isso, ambas se imbricam e se correspondem em muitos pontos, intensamente investidos pela narração. A ficção da artista desprende-se, assim, da linearidade temporal que periodiza as artes na formação de conjuntos, para seguir linhas cursivas e recursivas, nas quais o conceito e a obra se recruzam como expansões e contrações de sentido, singularizando-se em pontos que declaram uma tendência, uma viragem, uma fratura. Não se propõem, por isso, fases para a obra; contudo, as recorrências não são ficcionais apenas por recusar a positividade da periodização, mas por impedir que a noção de ilustração subordine a arte a um discurso pretextado como seu fundamento.

Considere-se, pois, o paralelismo das duas ficções, da artística e da discursiva: ambas se qualificam por traços épicos de uma narração que se estende das marcas biográficas às estéticas e cujos correlatos são os registros da prática, como os do ensino, da ética ou da política, que interpretam o país ou defendem os explorados do mundo. É notável que esta dimensão épica se relacione com outra, a mística, cujo esperado retiro do mundo produz contraste de intensa dramaticidade na narração: tencionando a ficção com emoções contraditórias em seu anti-conformismo, a arte e o discurso conjugam, admiravelmente, a contemplação extática e a intervenção política, no jogar uma na outra.

Narrativa como o discurso, a gravura de Heloísa é ficção construída por devires, metamorfoses, ambigüidades, contradições, correlações, que não se subordinam aos significados de temas por distinguir as articulações que se encadeiam como conjuntos de gravuras ou partes delas. Por isso, o paralelismo das duas ordens ficcionais se produz como imbricação de duas narrações que, sendo recíprocas, explicitam-se tanto nos temas, quanto no que os articula. A ficção da artista traça-se como um périplo de insistências, deslizamentos, enodamentos que articulam diversamente o sentido épico, no qual tanto Heloísa se enuncia como testemunha desse sentido, quanto outros protagonistas, artistas ou não, que se destacam na tessitura de histórias, nas quais tem relevância a gravura recente do Rio de Janeiro.

Nas gravuras, a iconografia, com seus pássaros, sóis ou mapas, é recorrente na ficção como deslizante na insistência e insistente no deslizamento: a recorrência, o deslizamento, a insistência das imagens articulam-se em uma enunciação épica, em que o narrado, embora exposto linearmente na fala, desdobra-se em retomadas, interrupções, acúmulos, efetuação gráfica que se rebate no discurso da artista, enovelando-o. Há, assim, uma dupla ficção: é discursiva aquela em que prevalece a linearidade, ao passo que os entre laços, como idas e vindas de um sentido não linear, caracterizam preferencialmente a obra gráfica.

Na dupla ficção da artista, opera o nó, no qual se entrelaçam histórias diversas, cujo narrador é miragem projetada nos enunciados como personagem, que, muita vez em abismo, narra. Tanto a personagem narrada quanto o narrador, que se omite, entrecruzam-se, de modo que Heloísa se expõe discursivamente com outras, também reveladas ao falar em um Brasil com muitas vozes: protagonistas da história, estas personagens aparecem como próximas à artista, sendo suas funções assinaladas em conformidade com as linhas expositivas, como a que trata da arte, do ensino, da política, da finança.

As junções das diversas narrativas podem surpreender, assim, a de seus estudos de Karl Marx e suas aproximações a Rudolf Steiner, mas, não menos, o seu ensino em favela do Rio de Janeiro e em escola steineriana de São Paulo. Esses contrastes envolvem muito sofrimento, que a artista hiperboliza com a oposição da fala ao silêncio. A fala é o que a artista busca, pois alegoriza suas dificuldades em sobreviver à política brasileira dos anos da ditadura militar. Essa oposição, que joga, evidentemente, com o contraste das trevas e das luzes, desdobra-se em vários planos: o do silêncio imposto pelo autoritarismo às pessoas, que só se libertam como falantes; o do silêncio na arte brasileira e da fala, mas em sentido amplo, pois a própria Heloísa faz arte enquanto permanece bastante tempo calada; o da dificuldade da fala, pois o fato de a arte poder prescindir do discurso, não implica que possa substituí-lo, de modo que a professora Heloísa Pires Ferreira pede a seus alunos que não abram mão dele, demanda estendida a seus colegas artistas.

É nesse horizonte que a arte e o discurso de Heloísa se relacionam: oposição, mas também contradição, ambigüidade, paradoxo narram devires imprevistos, metamorfoses estranhas, correlações bizarras. Como o discurso, a gravura e o bordado ficcionalizam-se, embora as narrações destas artes difiram. O bordado põe em evidência o devir material do tecido: pedaços coloridos de panos são costurados uns ao lado de outros, para formar a base lisa sobre a qual o bordado se faz, engruvinhando-a, o que a torna ondulada, quando não, rugosa. Este devir da superfície do material corresponde ao do cromatismo, pois os pedaços de áreas uniformes de cor se tornam, como efeito do uso de linhas coloridas, cores justapostas e, ainda mais, interpenetradas, de modo que o plano de pedaços coloridos se torna reverberante campo cromático.

Embora o bordado seja a arte pela qual Heloísa se inicia, é a gravura, mais que o desenho e a aquarela, que se distingue em seu discurso artístico. Por isso, também, o devir dos bordados estende-se, na sua fala, logo ao das gravuras, conquanto, introduzindo-se doravante na iconografia, estas ultrapassem os limites das questões dos materiais das respectivas artes. A cor é o que mais claramente evidencia a estética da artista: o cromatismo do bordado mantém-se na gravura, embora desintensificado, o que remete à diferença dos materiais. Mais, porém, que o bordado, a gravura compensa a atenuação das cores com uma gravação cuja força cromática fica tecnicamente ressaltada.

Além do intenso cromatismo, a gravura lança uma iconografia que não se circunscreve por distinções técnicas, pois estas se relacionam com conceitos e afetos do discurso, no qual se declara que a obra recolhe parcelas da sensibilidade e do pensamento de Heloísa. Com isso, a artista estabelece a correspondência entre o que o discurso afirma ser a face exterior e a interior da arte: a correlação da interioridade, assim, do afetivo e do conceitual, com a exterioridade da obra se especifica, portanto, como sendo a de dois espaços, o do interior e o do exterior, a soltar os devires, metamorfoses e correlações de seu trancamento em um só destes espaços. Por sua vez, o discurso conceitual de Heloísa evidencia-se retroativamente elaborado pelas categorias espaciais que lhe constroem a arte.

A interioridade e a exterioridade correlacionam-se, assim, como espaços; a geometrização do discurso corresponde à que opera na gravura, a qual, segundo a artista, inicia-se com pontos. Estes ora se expandem, ora se metamorfoseiam, sempre devires, em que um interior e um exterior se interceptam. Os pontos tornam-se, na narração de Heloísa, pássaros, sóis, nebulosas, mapas, pois, sendo labirínticos por se dividirem em si mesmos, apresentam-se como conceitos complexos e não como elementos de alguma geometria. Estes elementos são metafóricos no discurso, podendo ser qualificados, como afirma a artista, de rebuscados, detalhados, expandidos. Labirínticos, os pontos implicam o paradoxo ou a contradição em discurso que, diferentemente do da artista, exige a não-contradição na concepção da gravura. Nesta, a multiplicação, a expansão, a metamorfose são feitas com elementos gráficos que constroem a obra, à exclusão de qualquer consideração que acene com o não-ficcional: não surpreende que os pontos não possam ser, como declara Heloísa, pegos ou fotografados.

Noção elementar do discurso, o ponto tem sentido gravitacional, pois atrai, metafórico, outros seres, que Heloísa interpreta, por vezes, em chave de campo elétrico. Mais, porém, do que física, a energia do ponto, atraindo os seres, é fantástica, pois faz surgir pássaros e sóis, tornando-se, por sua vez, túnel, luz, quando não, pletora de pontos, nebulosa. Mas o devir não afeta somente o ponto, uma vez que também os seres atraídos sofrem metamorfoses, como os pássaros, que, quando autônomos em relação ao ponto, tornam-se montanhas, árvores, fantasmas. Os devires implicam, portanto, metamorfoses que combatem a linearidade: considere-se o duplo devir de pássaro e árvore, um se metamorfoseando no outro, que não instala o espectador no aconchego da hierarquia em que um dos dois é o que devém e o outro, o que deveio.

Há, também, devires de afetos, como nos mapas, em que as metamorfoses seguem ora a linha da dor, ora a da alegria, e é aqui que a política se declara. Em tais devires, a artista expõe discursivamente tanto seu luto, quanto sua esperança no que concerne à América Latina; enquanto os primeiros mapas são os de dor, com o do México, deformado relativamente à cartografia convencional, fulgura a esperança, que a transformação do desenho cartográfico em animalista ilumina como alegoria de renascimento efetuada pela metamorfose do mapa em dragão. Com o mapa do México, a figuração dos Estados do Brasil proclama afetos afirmativos nas metamorfoses amorosas de bichos.

Nos devires e metamorfoses opera, retórica, a hipérbole: tanto na narração quanto na gravura, Heloísa envolve-se com amplificações que se especificam, tendo o ponto por referência. Há uma amplificação numérica, na qual o ponto se dissemina, como nas nebulosas; há uma hiperbolização expansiva, quando o ponto cresce, tornando-se sol; há, também, uma diminutiva, quando o ponto se fragmenta, complexo, a evidenciar seus pormenores e rebuscamentos. O labirinto é, neste sentido, o do infinitamente grande e do infinitamente pequeno, pois Heloísa traz uma lente que também narra uma ficção proliferante em entrelaços do contínuo e do discreto. A narração, configurando a fantasia, hiperboliza o sentido, desce ao pormenor de um contato efêmero com algum artista, enquanto se ergue à permanência das idéias políticas que misticamente sobrevoa.

O infinitamente grande e o pequeno da hipérbole iconográfica e discursiva de Heloísa incidem em uma lente que mostra o bordado como processo, pois aumentado e diminuído além dos parâmetros estabelecidos para controle. Esta homologia da gravura e do bordado expõe o eixo de intersecção das duas artes: predominantemente calcográfica, a gravura não exclui inclusões xilográficas, amplificadoras dos recursos artísticos. É o que também se observa na relação da sutileza dos efeitos dos buris e águas-tintas com o refinamento dos efeitos do bordado, o qual, embora nada configure, figura-se como disseminação de raios em toda a superfície ondulada, que se acende. Mas, é graças à luz que as linhas do buril são homólogas às linhas do bordado: enquanto, na gravura, as relações dos traços do buril e das manchas de águas-tintas engendram uma infinita reverberação, no bordado, o fundo ascende pela intercessão das linhas vibráteis na geração de reverberantes raios infinitos, luz.

*Leon Kossovitch  e Mayra Laudanna,São Paulo, março de 2004

 

Apresentação da Exposição: “grafik & Brodyr”, na Gallery Nytorget 13, Stockholm, Suécia, 2004.

 

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                                                                               Virgílio de Souza *

 

Heloisa Pires Ferreira – É preciso que as portas estejam abertas, sempre abertas para todas as artes.... [...]

Uma artista respeitada e conceituada.

 

          A qualidade nos trabalhos que realiza fez com que a artista se tornasse conceituada e muito respeitada.  Trabalhou durante muitos anos no Sesc, onde desenvolveu vários projetos, inclusive diversas publicações voltadas para as artes plásticas. A qualidade de seu trabalho lhe garantiu duas importantes viagens ao exterior.

          A primeira no final de 1979, quando trabalhava na Oficina do gravura do Ingá , em Niterói.  Ganhou uma bolsa pela Fundação Gulbeikian de Lisboa, para ficar um ano e meio em Portugal, e na ocasião conheceu a Espanha, a Itália e o norte da África.  A segunda em 1981 quando foi a Venezuela participar de um Festival Internacional de Cultura, e ficou por dois meses.  Essas duas viagens, num espaço curto de tempo, acabaram por criar uma grande inquietação nos conceitos da artista. 

          -Minha ida `Europa e posteriormente a Venezuela, num encontro com vários artistas das mais diferentes áreas, me trouxeram uma certa inquietação.  A verdade é que muitas pessoas, por serem ignorantes ou pelo desejo de mostrar que são importantes, só querem saber e só se importam com o que há de bom na produção artística dos Estados Unidos e da Europa. È como se nossa cultura fosse uma meleca, um lixo.  Acabei por fazer um trabalho que retrata a morte da cultura na América Latina.  [...]

          Passada esta fase em que trabalhou a América Latina, a artista fez um trabalho valorizando os estados brasileiros, suas cores, animais e natureza.  Em junho de 2004, viajou a Estocolmo, na Suécia, onde pôde apresentar suas obras.

          -O trabalho que levei a Suécia nunca apresentei no Brasil.  Esta exposição aconteceu de maneira curiosa, pois uma pessoa que viu alguns trabalhos de gravura e bordado, ficou absolutamente apaixonada e, depois de alguns contatos, me convidou para expor em Estocolmo.  Era uma pessoa rica, influente e acostumada a visitar grandes exposições..  Foram 40 gravuras e mais alguns panos e tapetes e a exposição foi um sucesso total. Eles se encantaram com a diversidade e o equilíbrio das cores e me fizeram muitos elogios.

Outro momento de reconhecimento importante ao trabalho de Heloisa foi em 2003, quando a escritora Marilena Chauí, além de fazer uma análise filosófica sobre sua arte, decidiu colocar O Sol Negro como capa de um de seus livros.

          Viver é um arte

          Heloisa deveria ter nascido em Santa Teresa, bairro onde passou toda a sua vida. Mas, em razão de problemas de saúde da mãe, a família teve que se mudar para Teresópolis, onde nasceu. Quando era ainda pequena, a família voltou a morar em Santa Teresa. Ela não esconde  paixão pelo bairro.

          _ Amo esse bairro.  As pessoas, as casas, os trilhos, o boinde, os costumes. Me identifico com o lugar.  Esta ligação passa também pelo fato de a casa onde funciona hoje o Centro Cultural Laurinda Santos Lobo ter pertencido ao senador Pires Ferreira, que é da família. O fato do pai ser comunista em pleno governo Getúlio Vargas, e, em razão disso, ter que arcar com a opção política, acabou eixando marcas muito profundas.

          _Meu pai era uma pessoa curiosa e muito bonita, pois num momento em que as pessoas se preocupavam com o crescimento do patrimônio, ele se preocupava em dividir coisas e com o bem-estar da humanidade. Ele era médico e advogado...[...]  Era uma pessoa muito ligada ao Morro dos Prazeres e foi, incluisive a pessoa que fez o estatuto para a criação da Sociedade de Amigos  do Morro dos Prazeres.  Por sua influência, acabei também por me transformar em uma pessoa preocupada com as questões políticas e sociais. Até 1964, fiz um trabalho de arte no Morro dos Prazeres.  [...] (o governo da ditadura proibiu).

         

*Entrevista ao Virgílio de Souza para Capital Cultural – agosto, 2005

 

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                                                                     Mirian de Carvalho*

 

A arte contemporânea envolve questões complexas e delicadas.  Não se reduz aos objetos, às instalações, ao vídeo, ao conceitual, ou a outras manifestações que cabem no viés estético que adere a essas linguagens.  Realizando-se em esquiva do suporte, e com incursão pela poética dos materiais e pelo estranhamento, as linguagens contemporâneas, dentre outros focos, voltam-se para o espaço enquanto processo. Enquanto lugar de transformação. E em tempos de “Pós-Modernismo” as chamadas “técnicas tradicionais” passam por transformações sutis, que pedem olhos que as vejam sem preconceitos e modelos.  Valendo-se dessas técnicas, muitos artistas apresentam uma linguagem contemporânea, que sugere estudo e aprofundamento dessa questão.  É esse o caso de Heloisa Pires Ferreira.

Tecendo o Universo numa teia imagística, Heloisa articula suas gravuras através de um espaço relacional.  Mas as imagens não se prendem à forma nem conotam reprodução.  Seja nos Sóis, seja nos Pássaros, ou em outros motivos realizados na gravura, Heloisa não se atrela à narrativa. E, realizando-se por estranhamento formal, suas geometrias são “orgânicas”.  Por isso se incluem nessa teia de imagens e participam dessa especialidade semovente.  A arte de Heloisa, e aqui incluo o bordado criador, ou seja, o bordado primevo que equivale à tecelagem, envolve o visitante através desse espaço onírico e em processo.  Os trabalhos da artista criam entre si um diálogo não concluídos nos contornos do papel ou do pano.  Apresentando variações em torno de inexiste centro, plasticamente suas obras desmentem a idéia de um mundo fixo da razão fechada. E descentram as “verdades definitivas” que abarcam a cidade e a arte.

 

*Mirian de Carvalho, Membro da Associação Internacional de Críticos de Arte. Apresentação da exposição na Galeria de Arte IBEU, Rio de Janeiro – 2006

 

 

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                                                                     Geraldo Edson de Andrade*

         

                              HELOISA: VARIAÇÕES GRAVADAS

 

Uma veterana. Com quase 40 anos dedicados à gravura, técnica que domina e todos os seus segmentos, Heloisa Pires Ferreira tem muito que se orgulhar do seu ofício.  E o faz com o que ela mais sabe fazer: expondo seus trabalhos de difersas fases na Galeria de Arte do Ibeu, sem dúvida uma referência de qualidade no que se refere à arte em Copacabana.

          Heloisa Pires Ferreira é dessas artistas que abraçou integralmente as artes gráficas, cientes de sua importância e tradição no Brasil que, em temos idos, impôs a excelência de sua criação a nível internacional; hoje, infelizmente, sem apoio da crítica – e existe ainda crítica de arte nos jornais e revistas brasileiras? – conta, porém com a dedicação de artistas conscientes que continuam trabalhando, e o que é ainda melhor, transmitindo suas técnicas por esse Brasil afora.  Esta é também uma d função do gravador e que Heloisa também representa.

          Na mostra do Ibeu, a artista resume parte de sua obra que ela mesma qualifica de Variações em Torno de um Centro.  Os motivos são vários; labirintos que se desdobram em encontros com elementos da natureza, abraçando sóis, galáxias, constelações, nebulosas, pássaros, formas geométricas, centros energéticos.

          Para formar esse universo, Heloisa dá vazão á sua excelente técnica, pois, como se sabe, a gravura não prescinde a técnica, assim também como a emoção. Senhora do seu ofício, a artista transita por diversas técnicas da arte gravada, como o metal, a xilo (madeira), lito (pedra) e linóleo, em todas deixando a marca de uma artista na acepção.

          Tendo se iniciado na gravura nos anos 60, a artista carioca de Santa Teresa, tem recebido inúmeros prêmios, entre os quais Bolsa de Estudo e de Viagem da Fundação Calouste Gulbenkian, de Lisboa ( 1978) e, no Brasil passou 15 anos à frente da Oficina de Gravura do Sesc-Tijuca, celeiro de novos gravadores que Heloisa incentivou para manter viva a chama da gravura no Brasil, principalmente no âmbito do Rio de Janeiro, pois foi aqui que ela se expandiu para conquistar as maiores remiações internacionais, considerando nomes com Fayga Ostrower, Anna Letycia, Maria Bonomi, Edith Behring, Maria Rodrigues, pra ficarmos apenas no elenco feminino. Alguém já disse que a gravura no Brasil é um matriarcado. Pois que continue assim.

          A exposição de Heloisa Pires Ferreira será inaugurada na Galeria IBEU dia 19 de abril, às 20 horas.

          Imperdível, é o mínimo que podemos dizer.

 

*Geraldo Edson de Andrade, escritor, crítico de arte, professor da Escola de Desenho Industrial  Jornal Copacabana, pág11, 2006.

 

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Jose  Altino*

HUMANO SISTEMA
Heloisa Pires Ferreira

          A gravação da mão no desenho, arrancados 
desenhos dos primórdios das camadas arqueológicas
da terra - metal.
          A linha desenho sai de dentro das camadas
da terra - metal, como se ali já existisse, como
se a mão  fosse cavar o terreno da arqueologia
do metal - terra. A encontrar na terra- metal
primitivos seres aladas, pássaros libertados pela
mão desenhos de Heloisa Pires Ferreira.
          Pela mão da artista em vôo por entre os dedos,
primitivos pássaros, mapas, células cósmicas planetas,
via láctea universo cósmico.
          A gravura se inscreve no papel,
na verdade, vinda da sensibilidade do olhar,
liberto na técnica de gravar em metal,
na disciplina e dedicação de quem ama o ofício
de gravador - a mestra Heloisa Pires Ferreira.
          Conheci Heloisa na Escolinha de Arte do Brasil,
nos anos setenta, Nascia artista no atelier de Metal,
aluna de Marília Rodrigues.
          A vida no Bairro de Santa Teresa na casa da rua 
Almirante Alexandrino, uma célula cósmica.
          No mapa, cósmico bondinho descia  o morro
nos arcos da Lapa, e caia no universo
da metrópole-caos - Via Láctea Rio de Janeiro.
          Percorrendo os  mapas, pássaros coloridos
vinham dos panos bordados - desenhos. A vida
como entendimento do indivíduo e do universo,
na Santa Teresa bucólica, na metrópole Rio de
Janeiro. A busca do entendimento da 
da arte da vida, na placa do desenho no metal.

                                                               *Jose Altino,

                                            xilogravador.  Exposição   

                                               individual: “Sistema”,  

                           Estação Cabo Branco, Ciência, Cultura                   

                                            e Arte, fevereiro, 2011

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 Ana Lúcia Magalhães Barros*

RE – CICLOS - HELOISA PIRES FERREIRA

 

A alegria e a dor de existir, resistir de Heloisa Pires Ferreira, em suas aquarelas, desenhos, gravuras, bordados, efusão de cores, coloridas. Esmaecidas, entusiasmadas, abafadas, re-existindo, desta feita, na edição 2012 do Arte Portas Abertas, em exposição na Casa Alto Lapa Santa, coletivo de biolutas, cultura, música, mantras, brasilidades, instrumental, políticas da amizade dos dias 6, 7, 8 de julho, de 11 às 18 horas, à Rua Joaquim Murtinho, 654, Santa Teresa, 3º ponto do bondinho, desde para sempre.

O que temos a mostrar nessa retrospectiva de 40 anos de desejo – produção da artista nos incita à honra de convida-los para uma visita.

 

*Ana Lúcia Magalhães Barros, psicanalista. Apresentação da individual: “Re-Ciclos”. Casa Alto Lapa Santa, Julho, 2012

 

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Edson Meirelles*

         

Apoiada em rigor técnico e extrema sensibilidade, as gravuras em metal e, atualmente, as complexas tramas nos bordados, nos remetem “prima facie” a um universo dramático e onírico ao mesmo tempo. Delicada e intensa, a obra de Heloisa Pires Ferreira acaba refl­etindo a antítese de sua própria personalidade. Mandalas e Nebulosas, Pássaros /e Estrelas, Cosmos em formação surgem do Metal e pulsam no Papel com intensidade quase obsessiva,mostrando numa obra admirável não somente sua incessante busca pela liberdade de criar, mas principalmente a busca por sua própria liberdade interior.

*Edson Meirelles, fotógrafo e Chef de cozinha. proprietário do restaurante Ora Pro Nobis – Apresentação da Exposição:  “Espaço”, Casa Alto Lapa Santa, RJ, 2013.

 

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                                                                               Gilberto de Nichile *

 

          Heloisa não comenta seu trabalho, diz a curadora Mayra Laudanna.  Prefere que suas gravuras falem por ela, expressando sua revolta pelo sofrimento de grande parte do povo brasileiro, da América Latina e do mundo em geral, explorado pela ganância  dos financistas.  A artista teve, desde jovem, contato com a pobreza quando da aulas de desenho para crianças em uma comunidade carente do Rio de Janeiro.  Depois horrorizou-se com os desmandos da ditadura e, ainda hoje, solidariza-se com as pessoas infelizes e exploradas.  Primeiro mostrou sua indignação por meio da pintura e bordados e, depois,  com suas expressivas gravuras, nas quais se destacam sóis, luas, estrelas e mapas de países latino-americanos e estados brasileiros.

 

·       Gilberto de Michile comenta sobre a exposição “Constelações” de Heloisa Pires Ferreira, na revista Em Cartaz – Secretaria Estadual de Cultura - página 45. Hemeroteca da Biblioteca Mario de Andrade do dia 7 de maio ao dia 12 de outubro, 2014.

 

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