Reflexão: Alinhavando o tempo de Heloisa Pires Ferreira sobre o convívio de mais de 50 anos com Gravuras e Bordados Criadores
“Mais de 50 anos de gravura de Heloisa Pires Ferreira”, que são as minhas gravuras: estão compostas de cinco blocos: Gravuras feitas entre 1969 e 1977, entre 1978 e 1982, entre 1983 e 1989, entre 1990 e 1997, entre 1998 e 2021... A primeira fase
consta de labirintos e pássaros
1972 - 0,15 x 0,20 cm Foto: Henri Stahl

Foto: Henri Stahl
Labirinto Verde - Gravura em metal: águas tinta e forte - 1973 - 0,27 x 0,31 Foto: Hemri Stahl
Labirinto Ocre/Verde - Gravur em metal: águas tinta e forte - 1973 - 0,27 x 0,31 - Foto: Henri Stahl
Tapete - 1974
Pássaro folha - Gravura em metal: águas tinta e forte -1973 - 0,29 x 0,38
Pássaro preso - Gravura em metal: águas tinta e forte
- 1974 - 0,30 x 0,43 Foto: Henri Stahl
Liberdade - Graura em metal:águas tinta e forte - 1974 - 0,32 x 0,38
Foto: Henri Stahl
Pássaro preto - Gravura em metal: águas tinta e forte - 1974 - 0,30 x 0,40
Foto: Henri Stahl
Pássaro flecha - Gravura em metal: águas tinta e forte - 1974
0,30 x 0,40
Foto: Henri Stahl
Foto: Henri Stahl
Pássaro ovo - \gravura em metal: águas tinta e forte1974 - 0,47 x 0,41
Foto: Henri Stahl
Dois pássaros / sol - Gravura em metal: águas tinta e forte 1975
0,31 x 0,48 Foto: Henri Stahl
Pavão Prata - Gravura em metal: ponta seca, águas tinta e forte - 1975 0,51 x 0,49
Foto: Henri Stahl
Foto: Henri Stahl
Pavãozinho - Gravura em metal:Ponta seca, águas tinta e forte -1975 0,54 x 0,46
Foto: Henri Stahl
Foto: Henri Stahl
Ressurreição - Gravura em metal: ponta seca, águas tinta e forte - 1976 0,32 x 0,36
Foto: Henri Stahl
Foto: Henri Stahl

Olho - Gravura em metal 1976 - Foto: Henri Stahl
Pavãozinho Foto: Henri Stahl
A segunda fase o ponto se transforma
em sóis; ora sozinhos, ora junto com pássaros e ora somente pássaros (78
a 82). Sol com Galho - Gravura em metal: águas tinta e forte - 1978 - 0,39 x 0,39
O terceiro
momento da minha obra, chora a morte da América Latina através de seus mapas.(83 a 89).
O quarto período de trabalho são
sóis e estados brasileiros em momentos de esperança e alegria. (90
a 97).
No
estado atual das gravuras encontramos constelações, meteoros, nebulosas ou
detalhes do sistema solar e ora surgindo um mapa e ora outro.(98 a 2019).
Iniciei meus
trabalhos de arte em
Santa Teresa , com minha mãe Henriqueta Sanmartin, na
Lagoinha, aonde morei praticamente a vida inteira. Desenhava, pintava, bordava e freqüentava
museus e a casa dos amigos Maria Lucia Luz, Osmar Fonseca e Rogério Luz. Todos artistas plásticos. Deles recebi grandes incentivos pelo
convívio quase diário de vizinhos.
Quando comecei
a fazer Xilogravura, com José Altino, na Escolinha de Arte do Brasil, em 1969,
abriu-se um mundo em minha vida. O
gravar, o cravar, o machucar a madeira, dar-lhe uma nova forma de vida e até
poder possuir cópias dessa matriz, me possibilitou receber novas riquezas em
minha vida.
Por José Altino
fui levada à Marília Rodrigues que percebeu nos meus traços afinidade com o
metal.
Nesses cinquenta anos de gravura, o ato de
gravar me possibilita falar dessa vivência cheia de reticências. É um processo
de criação com idas e vindas, caminhos e descaminhos. É uma constante descoberta.
Posso dizer que
vejo um percurso que sempre andou em busca de um ponto.
O ponto
iniciou-se perdido em “elétricos” e passeou pelo espaço contracenando com galhos,
pássaros, círculos e encaminhou-se em direção ao firmamento. Andou por toda América Latina e estados
brasileiros; ora liricamente, ora chorando o sofrimento desta América dividida,
retalhada, partida e ate mesmo devastada pelo poder.
Atualmente
brinco com astros, que se reparte, estilhaçam-se e se embrulha com movimentos
em tons e cores. No centro de todo meu trabalho está o sol. O sol que ilumina a vida. A vida é o próprio
universo-(multi)verso). Ecossistema onde
estão envolvidas formas diversas, poéticas de vida. De ser, do Ser que é a
Energia Criadora.
Vejo uma
necessidade nesta busca de encontrar o meu equilíbrio interior, pois sempre
procuro falar dos meus sentimentos no que executo.
A arte
humaniza-me e serve-me para desvendar as barreiras que me impedem de ver a
realidade plena do que atrapalha ou turva a minha visão.
Preciso da
intimidade dos elementos da natureza como forma catalisadora de subsídios que
me permitem poder crescer e expressar-me.
O convívio com
o Bordado Criador diàriamente, a Meditação, a Concentração, a Interpretação de
Sonhos, o I Ching, os Contos de Fadas, a Yoga, o Extra-Sensorial, a terra, a
horta, o plantio de árvores, a Magia, a Radiestesia, a Bioeletrografia (Foto
Kirlian), a Teosofia, o Tarô, as Runas, a alimentação Viva, a Associação de
Moradores de Santa Teresa (Amast) e há 11 anos, convivendo, duas vezes ao dia
com a Meditação Vipassana são caminhos
que me levem ao encontro do meu Eu Interior, da minha Energia Interna, que me
acordam quase que diariamente, para outras formas de convívio com o terrestre.
Esses elementos
riquíssimos me ajudam a dar forma a fala metafísica e a desembaralhar os
meandros finíssimos que diferenciam o pensamento da natureza.
Expressar em
linguagem o que a natureza esbanja em todos os sentidos e níveis na harmonia do
visível e invisível é a minha meta. E é
neste não visto que vou encontrar a fonte de inspiração para poder dizer
visualmente deste mundo real que não é visto.
O meu trabalho não são meras
representações estéticas para serem olhadas ou enfeitadas nos ambientes.
São gritos que
buscam se harmonizar e arrancar do caos uma fala que encontre eco nas
angústias, torturas, desavenças e incompreensões. Limpando e clareando os espaços internos e
abrindo a visão a outros planos da alma.
O desequilíbrio
tem vez. Até é reverenciado porque neles podemos achar as cordas para tecer os
campos de ação. Permitindo à alma
perambular por todos os cantos que seja preciso e trazendo um novo olhar ao que
se quer falar.
A fonte de
inspiração é o trabalho incessante de esvaziamento de conceitos e fórmulas
conhecidas e uma busca dos sentimentos arcaicos que falarão dentro do grande
silêncio do homem consigo mesmo.
Quero dizer que
todos os momentos servem para devaneios e absorção de novos meios de expressão.
Falar visualmente é mais fácil que
verbalmente. Os encantos de uma grande
dor podem ser a causadora de sofridos e belos esboços. O sofrimento de uma alegria pode ser a
decepção de um rabisco estereotipado.
Os meandros que
separam uma verdade da outra qual será?
O que é festa? O que é
tristeza? O que é alegria? Aonde encontrar-se? Aonde ir se é preciso
ser? Trabalhando o ir-se e
transformando-o em penetrar, invadir sentimentos, arrebentar medos, arrancar
dobradiças e mergulhar no grande silêncio em sons, sombras, cores formas e
apanhar os tesouros infinitos que me são ofertados pela vida. Pois em torno, no
espaço infinito cintilam-flutuam estrelas, formas geometrizantes. Pedras preciosas, planos e dimensões da
existência.
Cada forma de
vida, por mais simples que seja, é uma pedra preciosa-estrela, que precisa
brilhar para iluminar a si mesma e aos demais em uma interdependência
cósmica.
Em cada lado,
pássaros esvoaçam plumagens, penugens, sugerindo alegria, felicidade, paz. Dois pássaros, os dois lados de todos nós. O
lado interior e o lado exterior.
Vento, sopro,
respirar. Ar puro.
Mas... O que é gravura? Como gravar? É todo material que você
machucou, arranhou, marcou, esculpiu e que posteriormente possa imprimi-lo num
suporte.
A matriz pode
ser de madeira, linóleo, eucatex, pedra, cobre, latão, ferro, papelão e outros
materiais.
A matriz é a
reprodutora de imagens quando recebe um tratamento específico para a
técnica. Permitindo cópias em positivo
ou negativo da imagem no suporte de papel, pano, papiro ou outros.
A gravura pode
ser feita diretamente no metal com ponta seca, com buril, roulet ou berceau e
outras ferramentas de incisão.
As gravuras em
ácido e com diferentes tipos de mordeduras são feitas para se conseguir resultados
na impressão do cobre, latão ou outros materiais.
Para se
conseguir gravar os desenhos, rabiscos, traços, linhas que se queira, coloca-se
uma camada uniforme de verniz sobre a chapa e com isso conseguiremos fazer uma
água forte.
Uma água tinta é
obtida com breu, sal ou lixa que trabalhadas poderão permitir que se consiga
texturas delicadas ou não, mas que com a ação do ácido marcarão o metal.
A impressão só
poderá ser feita caso haja texturas, linhas, sulcos, machucados, rasuras em que
a tinta possa penetrar e que sobre um papel previamente umedecido e sobre a
pressão de dois rolos passados numa prensa se consiga obter a imagem gravada na
matriz reprodutora no suporte.
Cabe à imaginação do gravador obter
outros recursos para gravar na matriz as imagens que se pretende obter no
suporte que é chamado de Gravura em Metal, Xilogravura, Litografia ou
Serigrafia. .
Heloisa
Pires Ferreira