domingo, 26 de fevereiro de 2023

1994 - junho - Heloisa Pires Ferreira é Gente de Santa - Folha de Santa Teresa - Geraldo Edson de Andrade apresenta : "Uma Oficina faz 10 Anos. A Gravura Brasileira está de Parabéns".

 

                

                      Suzana Carolina*

          “Eu acho a Europa, em matéria de arte, parecida com uma  senhora cansada, daquelas que já viram de tudo.  Lá(na Europa) se encontra arte em qualquer lugar; nas ruas, calçadas, móveis, não há uma enorme pureza, uma coisa bruta a mistura de luxo do homem com o luxo da natureza’.

          Assim a artista plástica Heloisa Pires Ferreira compara a arte brasileira e dos países desenvolvidos. Com a experiência de quem passou um ano e meio fora do país, HPF, não deixaria o Brasil.  Para ela o espírito do povo daqui não se encontra em nenhum outro lugar. “Lá fora as pessoas são frias demais”, diz, sem contar a saudade da família, dos amigos, do guaraná....

          Nascida em Teresópolis, mas moradora de Santa Teresa desde os 9 anos, HPF tem uma relação muito especial com o bairro, pois foi através de seus moradores que descobriu sua paixão pela arte e sua profissão.  Desde pequena teve grande inclinação para o desenho, mas foi através de seus vizinhos e amigos da família como Maria Lucia Luz e Osmar Fonseca (também dois artistas) que recebeu incentivo.

          Aos Quinze anos, acompanhando um projeto de Maria Lucia, se descobriu dando aulas de arte para os moradores do Morro dos Prazeres, todos os domingos. “Eu nunca tinha ensinado antes e não ganhava nada por isso, porém era adorável ensinar as crianças o que era arte; fazíamos isso através de filmes, cursos de artesanato em geral, sem nenhuma conotação política. Apesar disso, fomos obrigados a parar com os trabalhos por causa ditadura”.

          Esta experiência com a população carente foi tão importante que resolveu prestar vestibular para Serviço Social. Entrou na Faculdade e de lá saiu correndo. “Fiquei super decepcionada. Não aguentaria terminar o curso. Então resolvi trancar a matrícula e nunca mais voltei”. Depois disso, resolveu “levar a sério” sua paixão pelo desenho, fazendo cursos livres na Escola de Artes do Brasil, a princípio aprendeu xilogravura (arte e fazer desenhos em madeira). A gravura em metal, hoje sua especialidade, veio depois.

          Heloisa conta que a partir da experiência na favela, sempre procurou ensinar. Durante um  ano lecionou arte em um,a escola de método antroposófico, que prioriza a mente, a sensibilidade e também fazia programas específicos para professores, onde incentivava o processo de criação, explicando o que  era “criar”.

          Em 1976, ganhou seu primeiro prêmio em uma exposição. “As coisas acontecem meio por acaso, eu estava preparando uma exposição para o Rio Grande do Sul, patrocinada pela Aliança Francesa de lá. Um amigo que ia expor comigo me aconselhou a mandar algumas gravuras para o “Salão Casa da Bahia”, enquanto não íamos para Porto Alegre. Pois é, na Bahia acabei ganhando o prêmio”. 

          Até hoje, Heloisa já participou de oito Salões Oficiais de Gravura e de 72 exposições coletivas. Atualmente, é Coordenadora da Oficina de Gravura do Sesc da Tijuca, onde, inclusive, assessorou a equipe de engenheiros e arquitetos no planejamento e montagem da oficina.

          Seu projeto mais recente é uma Mostra Itinerante comemorativa dos 10 anos do Sesc, que, além dos trabalhos de Heloisa, reúne obras de outros nove artistas. A exposição passou por Nova Iguaçu, está em Barra Mansa, em junho vai para Teresópolis e em 30 de agosto chega na Uerj.

          Heloisa também é professora de arte do Colégio Andrews, escola de primeiro e segundo graus que considera ser a mais séria no campo de artes plásticas.

          Nesse ano de eleições, HPF espera que os políticos realmente se preocupem com o Brasil, principalmente, na questão social.  Acha muito triste ver tantas crianças na rua, sem que haja um projeto sério de educação.  Ainda não escolheu seu candidato à presidente, mas não votará em branco.  “Quero escolher alguém, preciso acreditar.  Este é o País onde eu vivo, e contribuir para que ele saia da lama é uma obrigação minha e de todos os brasileiros”.

                                                                * “Gente de Santa: Heloisa Pires Ferreira”

                                                                    Folha de Santa Teresa, pág 11, junho – 1994.


 Sol Branco

 


 1978 - Água tinta - 39 x 39cm - Foto: Henri Stahl

 


 

 “Quero escolher alguém, preciso acreditar.  Este é o País onde eu vivo, e contribuir para que ele saia da lama é uma obrigação minha e de todos os brasileiros”.

                 Heloisa ires Ferreira


Capa do Jornal 

"Folha de Santa"

Editor: Luiz Marchesini



Matéria de Suzana Carolina

 Gravura Brasileira - Coletiva na GB artes

 


 Divulgação da exposição na UFRJ

 "Uma Oficina Faz Dez Anos. A Gravura Brasileira está de Parabéns".

 O gravar, o cravar, o rabiscar contorcido leva-nos ao mundo inebriante de cores e tons de Wilson Cotrin.  Utiliza a viscosidade em total domínio e arranca tanto do metal como dos rolos uma diversidade infinita de figuras fortes e exuberantes. Possui linguagem fóssil, onde peixes, répteis e outros estão cravados para sempre.


Foram expostos 60 trabalhos de gravura em metal, linoleogravura, xilogravura de dez gravadores que trabalham no espaço.

 


 Convite da expo na UERJ

Geraldo Edson de Andrade*

Uma Oficina faz Dez Anos. A Gravura Brasileira está de Parabéns.

          Aos dez anos de atividades, A Oficina de Gravura do Sesc Tijuca pede passagem e mostra o resultado de seu trabalho.Dez anos podem parecer exíguos para a responsabilidade que a oficina exibe, não só daqueles que nela deram os primeiros passos, como igualmente de outros tantos que ali encontraram oportunidade a mais para desenvolverem a sua linguagem.

          Em se tratando do Brasil, a Oficina de Gravura do Sesc Tijuca, exemplarmente instalada no meio de belos jardins num dos bairros mais tradicionais da cidade, é uma lição de eficiência que muito deve à orientação firme e esclarecida que lhe foi imposta pela gravadora Heloisa Pires Ferreira nesse decênio. E também do apoio recebido da própria entidade mantenedora, uma raridade quando se sabe que entre nós assuntos de natureza cultural enm sempre são prioritárias, como política operacional.

          A gravura do Brasil – parece até ousado dizer – tem tradição e qualidade e criatividade, com repercussão internacional, a ponte de se impor como uma das melhores nesse século. Quem afirma não sou eu e, sim, o historiador norte americano Gilbert Chase na obra Art in Latin America (the Free Press, 1970), ao acentuar que “the contemporany graphic arts of Brazil are wiswly recogonized as standing among the most important of this century” Chase destaca principalmente o impacto causado por alguns gravadores brasileiros em salões e bienais no exterior, as honrosas premiações conquistadas que tanto prestigio granjearam para o osso pais.

          Curioso que, no  Brasil, pais tropical e luminosa luz, tenham os artistas optado pela arte gravada e se tornado um celeiro de talentosos gravadores e de mestres de excepcional investida nas suas mais dispares técnicas. Nesse particular, cabe ao Rio de Janeiro, em dúvida, destaque especial como centro irradiador de todo esse movimento.

          Foi no Rio de Janeiro, despontaram os pioneiros,  Carlos Oswald, Oswaldo Goeldi como grandes gravadores que estenderam sua atuação ao ensino, uma vez que a gravura tem esse vaticínio de transformar seus expoentes em professores em potencial, como se fosse a sua missão não deixar se apagar a chama que a ilumina.

           O primeiro, após longo aprendizado na Europa, ao retornar ao Brasil, em 1914, inicia aqui oprimeiro curós de gravura em metal no Liceu de Artes e Ofícios, no mesmo local em que,  em 1919, realizava também a primeira exposição de águas fortes não só no Rio de Janeiro mas no próprio pais. Noutra técnica, a xilo, na qual foi artista absoluto, Goeldi, a partir de 1924, expande-se em forte expressionismo co  obras que figuram, por justiça, entre as mais representativas de toda a arte brasileira.

          O dez artistas presentes nesta exposição comemorativa da Oficina de Gravura do Sesc Tijuca têm uma responsabilidade muito grande, qual seja a de manter a qualidade  e o  prestígio da nossa gravura. Em todas elas há um traço comum: conhecem técnicas, que também aprimoraram em outros centros de ensino de gravura no âmbito do Rio de Janeiro sob o estimulo de  mestres gravadores de incontestáveis valor, mas que freqüentam a Oficina e Gravura do Sesc com renovado interesse. O bom gravador nunca deixa de estudar e pesquisar.

           Do que valeria a técnica, imprescindível sob todos os pontos de vista, se nela não estivesse implícita a emoção: sete dos gravadores que ora expõe a sua obra – Elias Cassibi, Gilberto Grimming, Moacir Silva, Rosi Orsi, Wilson Cotrin, Paulista e Vera igo – são, na essência, artistas que trabalham o expressionismo em suas estampas, com técnicas e figurações que ora tendem para o dramático e o lirismo do tema,  como igualmente, para o satírico, caso de Vera Rigo.

          Os outros três expositores, incluindo os fascinantes mapas da América Latina, uma maneira sutil da veterana e consagrada Heloisa  Pires Ferreira discutir o problema político que mais a incomodam, e lhe atraem,  transitam com rara habilidade entre a figuração pop de Liége Nascimento e a arqueologia de Jayme Spector, esse último usando co o técnica o linóleo, pouco difundido entre nós.

           O que dizer de todos eles, em conjunto: que encaram a gravura como meio de expressão, que mais do que promissores são artistas de uma geração que essa segura do que faz tanto quanto aqueles outros a quem estão sucedendo.

          Os dez anos de Oficina de Gravura Sesc Tijuca, através das obras desses gravadores, não podiam ser melhor comemoradas.

                                                                        Geraldo Edson de Andrade

                                                                                    Rio, Fevereiro, 1994.


26 de agosto, 1984

O Fluminense  p.4

 Segundo Caderno


Ariadne Guimarães comenta:

"Entre vários talentos desenvolvidos ou apurados na Oficina da Tijuca, alguns destacam-se pela originalidade, desenho ou técnica...  "

( correção: o único a expor linoleo foi Jaime Spector e não Moacyr Silva. Heloisa corrige) 

"A rara  lineogravura, de Jayme Spector, tem espaço na exposição.

Liége Nascimento, carioca recentemente premiada no Salão da Primavera em Resende, é outro nome forte na mostra. A artista busca com traço sutil em água forte falar do vestiário feminino e masculino. O resultado é curioso e de grande delicadeza."


 

Sala Cândido Portinari, na UERJ, Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã.

30 de Agosto até  24 de Setembro  de 1994.




Galeria de Artes Sesc Nov Iguaçu

Rua Aymorés, 10,  Moquetá, Nova Iguaçu.

8 de abril até  primeiro e maio de 1994.





Texto de Geral Edson de Andrade



Galeria de Arte Sesc Barra Mansa 

Rua Tenente José Eduardo, 560

Barra Mansa

5 de maio até 29de maio de 1994.




Galeria de Arte Sesc Teresópolis

Rua Delfim Moreira, 749, Teresópolis

5 de junho até 26 de junho de 1994.







Jornal do Sesc divulga a exposição. Dá destaque ao Prêmio de Vera  Rigo.



No catálogo: foto panorâmica da Oficina




Heloisa Pires Ferreira recebe certificado da UERJ sobre a palestra  realizada em 7 de fevereiro, 1994.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

2022 - "Alinhavando o tempo - Reflexão de Heloisa Pires Ferreira sobre o convívio com a Gravura e Bordado Criador" e doa em 2022 a prensa de Gravura em metal para a EBA - UFRJ e Adir Botelho em 1993 apresenta a coletiva do Sesc Tijuca e divulgação da Oficina em 1993

 

Heloisa trabalhou de 1975 a 2022 na Prensa elétrica Topal para Gravura em metal e Xilogravura - 105cm x 115cm. e doa para a EBA - UFRJ em 2022.

fotos: Claudia Emilia 

 


 

 

 

 

  Heloisa doa sua prensa no dia 20/12/2022 para a Escola de Belas Artes - EBA - UFRJ 



Heloisa Pires Ferreira trabalhou nesta prensa por 47 anos

 


Documento de doação 


Dia 20/12/ 2022 a Prensa foi montada na  EBA  - UFRJ por Paulo e Geraldo da  transportadora Celebrity Comércio  e Serviço de Máquinas.

Foto:  Geraldo Ismael

  

                              *Heloisa Pires Ferreira

Alinhavando o tempo – Reflexão de Heloisa Pires Ferreira sobre o convívio com a GRAVURA e o BORDADO CRIADOR.

          Iniciei meus trabalhos de arte em Santa Teresa , com minha mãe Henriqueta Sanmartin na Lagoinha, aonde morei praticamente a vida inteira.  Desenhava, pintava, bordava e freqüentava museus e a casa dos amigos Maria Lucia Luz, Osmar Fonseca e Rogério Luz.  Todos artistas plásticos.   Deles recebi grandes incentivos pelo convívio quase diário de vizinhos.

 

Céu - Gravura em metal: água tinta - 2007 - 30 x 30cm

Foto: Elisa Guerra
 

       Quando comecei a fazer Xilogravura, com José Altino, na Escolinha de Arte do Brasil, em 1969, abriu-se um mundo em minha vida.  O gravar, o cravar, o machucar a madeira, dar-lhe uma nova forma de vida e até poder possuir cópias dessa matriz, me possibilitou receber novas riquezas em minha vida. Neste período na Escolinha tive a oportunidade de estudar desenho, com Abelardo Zaluar e Sergio Campo Bello.


 Sol Bistre Laranja - 1983 - Buril e água tinta - 39 x 40 cm - Foto: Henry Stahl

      

 Por José Altino fui levada à Marília Rodrigues, em 1971 que percebeu nos meus traços afinidade com o metal. Frequentei o atelier de Metal sob os seus cuidados, também na Escolinha de Arte do Brasil, até 1976.

 

 

Veste - bordado criador - 1968 - 71 x 77cm


Fotos: Maisa Cristina da Silva

 

 

 

       Nos anos 60, além de desenhar livremente sempre, passei a bordar muito; me emaranhava nos panos de tipos diversos e envolvida nas cores das linhas puxava do meu interior os sofrimentos, as angústias, as crises de suicídios, os medos, , as dúvidas e organizava os pensamentos, e deixava surgir ações em formas concretas; nas elaboradas seres ou formas do meu imaginário; cores voando pelo espaço do pano.  Livre posso soltar minha emoção e ver os resultados no imediato, o que não acontece nos desenhos sofisticados e muito menos nas gravuras que são altamente trabalhosas, não só fisicamente como requerendo esperas entre uma técnica e outra, para conseguir o resultado final, após dias e dias de labuta.

 

Rio Grande do Sul - 2022 - Gravura em metal: buril e ponta seca - 24 x 25cm

 

 
 

Convivi na Oficina de Gravura do Museu do Ingá, Niterói, no ano de 1978,  aonde estudei buril com Mario D´Oglio e gravura com Anna Letycia.

       Recebi uma bolsa de “Viagem de Estudos Fundação Calouste Gulbekian” em 1978, através do Museu do Ingá, o que foi muito enriquecedor para o meu crescimento, pois fiz Litogravura, em Lisboa, Portugal, na Sociedade de Gravadores Portugueses com Umberto Marçal.

20-12-2022 - A prensa sendo desmontada por Geraldo e Paulo na Oficina de Gravura de Heloisa

destino Fundão


 

Nesses anos de gravura, o ato de gravar me possibilita falar dessa vivência cheia de reticências. É um processo de criação com idas e vindas, caminhos e descaminhos.  É uma constante descoberta.

 

 

1980 - Heloisa imprimindo e Antonio rodando a prensa na Cooperativa de Gravadores Portugueses - GRAVURA - Lisboa
 

 

 

Em 1983, assessorei a equipe de Engenheiros e Arquitetos no planejamento e montagem da Oficina de Gravura do Sesc Tijuca e coordenei os trabalhos ali realizados por quinze anos; inclusive a publicação do livro em três volumes “Gravura Brasileira Hoje: Depoimentos”.

 

Heloisa na Oficina de Gravura do Sesc  Tijuca, coordenando uma das entrevistas dos 24 gravadores que ocorreram em 1986.

Adamastor Camará  entrevistava e René Valeriano assessorava junto com Ana Carolina e Diõ David.

 
 

É importante falar do local que é a Oficina de Gravura Sesc Tijuca por ter sido planejada para ser um local de se fazer gravura.


1980- Casa de Heloisa na Lagoinha em Santa Teresa aonde funcionou sua Oficina até 1999.



       Durante um ano preocupei-me junto com os arquitetos e engenheiros em criar um espaço onde os gravadores tivessem a possibilidade de realizar suas pesquisas sem se engalfinharem por falta de equipamento e sim um espaço adequado e realizando suas pesquisas e descobertas (1983 a 1999).

        Ali se entrevistou durante mais de uma década 24 gravadores brasileiros com o objetivo de se historiar a gravura no Brasil.  Os entrevistados foram pessoas que se dedicaram a gravura, formaram gerações de gravadores e marcaram com  o seu fazer e culminou com o livro Gravura Brasileira Hoje: Depoimentos em 3 volumes. (1985 à 1997).    

 

 

Tapete: Rio Grande do Sul Encanta os Amigos - 49 x 56cm - 2022
 


 Em 2004, apresentei ao público sueco, em Estocolmo: “Graphics & Embroideries” mostrando essas formas de expressões; o gravar e o bordar intimamente ligados; uma linguagem é o desdobramento da outra.

                O ato de gravar e trabalhar com as cores das linhas, me possibilita falar dessa vivência cheia de reticências.

Paulo e Geraldo mntando a prensa doada por Heloisa no dia 20 de dezembro, 2022 na EBA - UFRJ

Foto: Mascos Abreu

 


 

 

Vejo um percurso que sempre andou em busca de um ponto.

       O ponto iniciou-se perdido em “elétricos” e passeou pelo espaço contracenando com galhos, pássaros, círculos e encaminhou em direção ao firmamento.  Andou por toda América Latina e estados brasileiros; ora liricamente, ora chorando o sofrimento desta América dividida, retalhada, partida e até mesmo devastada pelos poderes.

 

 

2015 - Tapete: Jardim da Penelope - Madrid - 47 x 52cm

Foto: Elisa Guerra
 

Cartão postal


 

 

 

 

 

 

Atualmente brinco com astros, que se reparte, estilhaçam-se e se embrulham com movimentos em tons e cores. No centro de todo meu trabalho está o sol.  O sol que ilumina a vida. A vida é o próprio universo-(multi)verso).  Ecossistema onde estão envolvidas formas diversas, poéticas de vida. De ser, do Ser que é a Energia Criadora.

       Vejo uma necessidade nesta busca de encontrar o meu equilíbrio interior, pois sempre procuro falar dos meus sentimentos no que executo.

       A arte humaniza-me e serve-me para desvendar as barreiras que me impedem de ver a realidade plena do que atrapalha ou turva a minha visão. 

    Preciso da intimidade dos elementos da natureza como forma catalisadora de subsídios que me permitem poder crescer e expressar-me.

       O convívio ao longo das décadas com a gravura, o bordado criador, o desenho, a aquarela, a pintura a óleo, a meditação, a concentração, a psicanálise, a Interpretação de Sonhos, o I Ching, os contos de fadas, a yoga, o extra-sensorial, a terra, a horta, o mato, a magia, a radiestesia, a bioeletrografia (foto Kirlian), a teosofia, o tarô e as runas. 


 Prensa montada no Fundão3m 20 de dezembro, 2022.

           Foto: Marcos Abreu

 

 

 

Esses caminhos já me foram muito úteis, agradeço e hoje me dedico só a alguns, que me levam ao encontro do meu Eu Interior, da minha Energia interna, e me acordam quase que diariamente, para outras formas de convívio com o terrestre.

Além de bordar e fazer Yoga, uso alimentação Viva, convivendo com a terra, com a horta silvestre do Terrapia, na Fiocruz, com o plantio de árvores e plantas. 

Com a Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast), Apa João Felipe, Fundação Parques e Jardins e a Secretaria de Meio Ambiente plantando de 2014 até hoje mais de 400 árvores pelo bairro.

Desde 2007 convivendo diariamente com a Meditação Vipassana.

       Esses elementos riquíssimos me ajudam a dar forma à fala metafísica e a desembaralhar os meandros finíssimos que diferenciam o pensamento da natureza.

       Expressar em linguagem o que a natureza esbanja em todos os sentidos e níveis na harmonia do visível e invisível é a minha meta.  E é neste não visto que vou encontrar a fonte de inspiração para poder dizer visualmente deste mundo real que não é visto.


Prensa sendo montada pelos funcionários da transportadora 

 

 

Foto: Marcos Abreu 

 

No meu trabalho, as representações estéticas não são só para serem olhadas ou enfeitar ambientes, são gritos que buscam se harmonizar e arrancar do caos uma fala que encontre eco nas angústias, torturas, desavenças e incompreensões.  Limpando e clareando os espaços internos e abrindo a visão a outros planos da alma.

       O desequilíbrio tem vez. Até é reverenciado porque nele podemos achar as cordas para tecer os campos de ação.  Permitindo à alma perambular por todos os cantos que sejam preciso trazendo um novo olhar ao que se quer falar.

       A fonte de inspiração é o trabalho incessante de esvaziamento de conceitos e fórmulas conhecidas e a busca dos sentimentos arcaicos que falarão dentro do grande silêncio do homem consigo mesmo.

       Todos os momentos servem para devaneios e absorção de novos meios de expressão.

 Prensa sendo desmontada na Oficina de    Heloisa

 

       Falar visualmente é mais fácil que verbalmente.  Os encantos de uma grande dor podem ser a causadora de sofridos e belos esboços.  O sofrimento de uma alegria pode ser a decepção de um rabisco estereotipado.

       Os meandros que separam uma verdade da outra qual será?  O que é festa?  O que é tristeza?  O que é alegria?  Aonde encontrar-se? Aonde ir se é preciso ser?  Trabalhando o ir-se e transformando-o em penetrar, invadir sentimentos, arrebentar medos, arrancar dobradiças e mergulhar no grande silêncio em sons, sombras, cores formas e apanhar os tesouros infinitos que me são ofertados pela vida. Pois em torno, no espaço infinito cintilam-flutuam estrelas, formas geometrizantes.  Pedras preciosas, planos e dimensões da existência.


Tapete: Pernambuco: Centopeia da Isabella 

40 x 53cm

         Foto: Luiz Gallotti Póvoa


 

 

       Cada forma de vida, por mais simples que seja, é uma pedra preciosa-estrela, que precisa brilhar para iluminar a si mesma e aos demais em uma interdependência cósmica. 

       Em cada lado, pássaros esvoaçam plumagens, penugens, sugerindo alegria, felicidade, paz.  Dois pássaros, os dois lados de todos nós. O lado interior e o lado exterior.

       Vento, sopro, respirar.  Ar puro.

       Mas...  O que é gravura?  Como gravar? É todo material que você machucou, arranhou, marcou, esculpiu e que posteriormente possa imprimi-lo num suporte.

       A matriz pode ser de madeira, linóleo, eucatex, pedra, cobre, latão, ferro, papelão e outros materiais. Ela é a reprodutora de imagens quando recebe um tratamento específico para a técnica.  Permitindo cópias em positivo ou negativo da imagem no suporte de papel, pano, papiro ou outros.

       A gravura pode ser feita diretamente no metal com ponta seca, com buril, roulet ou berceau e outras ferramentas de incisão.

       As gravuras em ácido e com diferentes tipos de mordeduras são feitas para se conseguir resultados na impressão do cobre, latão ou outros materiais.

       Para se conseguir gravar os desenhos, rabiscos, traços, linhas que se queira, coloca-se uma camada uniforme de verniz sobre a chapa e com isso conseguiremos fazer uma água forte.

Atelier de Heloisa

Foto: Claudia Emilia
 

       Uma água tinta é obtida com breu, sal ou lixa que trabalhadas poderão permitir que se consiga texturas delicadas ou não, mas que com a ação do ácido marcarão o metal.

       A impressão só poderá ser feita caso haja texturas, linhas, sulcos, machucados, rasuras em que a tinta possa penetrar e que sobre um papel previamente umedecido e sobre a pressão de dois rolos passados numa prensa se consiga obter a imagem gravada na matriz reprodutora no suporte.

Cabe à imaginação do gravador obter outros recursos para gravar na matriz as imagens que se pretende obter no suporte que é chamado de Gravura em Metal, Xilogravura, Litografia ou Serigrafia.    


 EBA - UFRJ        Foto: Geraldo  Ismael

 

 

“Alinhavando o Tempo de Heloisa Pires Ferreira”, são os bordados criadores que me acompanham pela vida a fora e as minhas gravuras: estão compostas de cinco blocos: Gravuras feitas entre 1969 e 1977, entre 1978 e 1982, entre 1983 3 1989, entre 1990 3 1997, entre 1998 e 2022.

       A primeira fase consta de labirintos e pássaros em busca de um ponto. (69 a 77).

A segunda fase o ponto se transforma em sóis; ora sozinhos, ora junto com pássaros e ora somente pássaros.  (78 a 82).

EBA -   Foto: Geraldo Ismael

        O terceiro momento da minha obra; choro a morte da América Latina através de seus mapas.(83 a 89)   

        Neles falo de uma preocupação que tenho com essa América Latina e esse país em que vivemos; tão dividido, dilacerado e sofrido.

Creio que poderão compreender bem o que se passa em meu interior contemplando a confusão causada pelo poder do dinheiro e a ausência deste dinheiro em nosso povo. 

Há uma esperança pelos dois que demonstram através da plasticidade e delicadeza de suas feituras que a sensibilidade seja uma saída para que a verdade balance o interior de cada ser e se compreenda que a felicidade de cada ser está também na felicidade de seu próximo.

Divido em três etapas esse meu trabalho: em primeiro lugar uma visão total ou parcial da América e até mesmo uma divisão de países formando outros mapas. Em segundo lugar homenageio os países da América Latina falando de suas mortes, seus sofrimentos, suas devastações, suas perdas de valores e, em terceiro lugar, exploro diversos sóis que vêm como forças poderosas que podem alterar toda essa forma de se viver do momento presente.

Podendo ver algumas dessas gravuras, terão uma visão do porque me dediquei, por mais de uma década, ao trabalho de despertar interesses em pessoas que quisessem fazer gravuras.


 Prensa montada na EBA

Foto: Marcos Abreu

 

O quarto período de trabalho são sóis e estados brasileiros em momentos de esperança e alegria.  (90 a 97).



2020 - Quebra cabeça 

Pernambuco:Centopeia da Isabella -

 

 

 

 

  No estado atual das gravuras encontramos constelações, meteoros, nebulosas ou detalhes do sistema solar e ora surgindo um mapa ou outro.(98 a 2022).

Heloisa Pires Ferreira 

 Rio, 20/02/2023.


 

 Geraldo e Paulo desmontando a prensa    Santa Teresa - 20/12/2022


 


 

         Quebra cabeça - Pernambuco: Centopeia da Isabella



 

1993 - Coletiva da Oficina de Gravura Sesc Tijuca  em Barra Mansa e São João de Meriti                   

 

                                                                                   Adir Botelho*

          A Gravura além de ser o processo mais antigo de se reproduzir uma imagem é, também, o meio de expressão mais utilizado pelos artistas contemporâneos. A própria gravura  brasileira em seu ciclo permanente de desenvolvimento vem despertando interesse cada vez maior entre as  novas gerações de artistas, o que certamente contribuiu para que o Serviço Social do Comércio – SESC -  criasse, em 1983, por iniciativa do  Diretor Regional Ubiratan Correa, o atelier para Gravura em Metal no Centro de Atividades da Tijuca no Rio de Janeiro.

          Ao assessorar os arquitetos Sergio Jamel e  Marco Antonio Coelho no projeto para o setor das artes plásticas de  referido Centro, a gravadora Heloisa Pires Ferreira, já então como coordenadora o atelier, ampliou a original, introduzindo os cursos de xilogravura e desenho, surgindo assim, em 1984, a OFICINA DE GRAVURA SESC/Tijuca. Um lugar onde se exerce a arte de gravar e que “tem por objetivo a prática da gravura em metal, xilogravura e desenho, e  como filosofia o respeito à individualidade criadora do aluno. “Uma oficina para que os que professam a arte da gravura, consciente da considerável importância do acesso às diversas técnicas dessa milenar e incisivo meio de comunicação e divulgação cultural, consagrado por mestres notáveis como Albert Dürer, Rembrandt, Goya, Piranesi, Posada, Goeldi, entre tantos outros.

          A Oficina de Gravura do Sesc é orientada pela gravadora Heloisa Pires Ferreira e Mario Orlando Favorito.  Por ali passaram, realizando cursos, artistas como  Vera Roitman, Ana Carolina, Tiziana Bonazzola, José Lima,  Liége Nascimento, Maria Lucia Luz, Marília Rodrigues,  Orlando Dasilva,  René Valeriano,  Rubem Grilo,  Tay Bunheirão e Teresa Miranda, o que  demonstra o acerto da Coordenação na escolha dos artistas, um conjunto de profissionais com reconhecida presença no setor das artes gráficas.. Nos cursos do Sesc professores e alunos são animados pelo exercício da liberdade que caracteriza o ato de gravar. Sem dúvida, a OFICINA DE GRAVURA SESC/Tijuca contribui para manter a tradição de qualidade que levou a gravura brasileira contemporânea a obter um prestígio superior ao de qualquer outra manifestação artística no Brasil.

                                                                                Adir Botelho

*Gravador e Coordenador do Curso de Graduação  em Gravura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ.


Coletiva da Oficina de Gravura Sesc Tijuca nos Sesc de Barra Mansa e São João de Meriti.  Adir Botelho apresenta em 1992.

 

 

 

Uma oficina pode ser  definida como, "lugar que se opera transformação notável". Assim, desde 1983, transformações notáveis vêm sendo operadas na Oficina de Gravura Sesc/Tijuca, cujo objetivo é a transmissão de conhecimento e a prática da gravura, e a filosofia, o respeito à individualidade criadora de cada um.


 O Projeto Obra Aberta é uma iniciativa dos gravadores da Oficina de Gravura Sesc Tijuca e tem por objetivo:

* Estabelecer uma política de "portas abertas" através de visitações.

*Esclarecer dúvidas a respeito da técnica da gravura.

* Evidenciar a fertilidade e contemporaneidade do espaço.

*Expor obras dos gravadores e  colocá-las a venda.

Participantes: Elias Kassbi, Gilberto Grimming, Heloisa Pires Ferreira, Liége Nascimento,  Mario Orlando Favorito,  Moacir Silva, Paulo Cesar Rocha, Rosi Orsi e Wilson Cotrim.

"Atenção! Devagar com a certeza que as verdades envelhecem. Arte é atitude. Está mais no processo que no produto. Estaremos sempre perguntando." Pablo Picasso


Coletiva 9 anos de gravura em 1993 -  Sesc Três Rios  Apresentação:

Mario Barata

Anna Letycia

 Adir Botelho

Rogério Luz

Walmir Ayala



 


 

 

 

 


   Divulgação dos Cursos   

Em 1993 os pesquisadores na oficina tinham o apoio de Vera  Rigo e Paulista alunos estagiários da Escola de Belas Artes - UFRJ.