Suzana Carolina*
“Eu acho a Europa, em matéria de arte, parecida com uma senhora cansada, daquelas que já viram de tudo. Lá(na Europa) se encontra arte em qualquer lugar; nas ruas, calçadas, móveis, não há uma enorme pureza, uma coisa bruta a mistura de luxo do homem com o luxo da natureza’.
Assim a artista plástica Heloisa Pires Ferreira compara a arte brasileira e dos países desenvolvidos. Com a experiência de quem passou um ano e meio fora do país, HPF, não deixaria o Brasil. Para ela o espírito do povo daqui não se encontra em nenhum outro lugar. “Lá fora as pessoas são frias demais”, diz, sem contar a saudade da família, dos amigos, do guaraná....
Nascida em Teresópolis, mas moradora de Santa Teresa desde os 9 anos, HPF tem uma relação muito especial com o bairro, pois foi através de seus moradores que descobriu sua paixão pela arte e sua profissão. Desde pequena teve grande inclinação para o desenho, mas foi através de seus vizinhos e amigos da família como Maria Lucia Luz e Osmar Fonseca (também dois artistas) que recebeu incentivo.
Aos Quinze anos, acompanhando um projeto de Maria Lucia, se descobriu dando aulas de arte para os moradores do Morro dos Prazeres, todos os domingos. “Eu nunca tinha ensinado antes e não ganhava nada por isso, porém era adorável ensinar as crianças o que era arte; fazíamos isso através de filmes, cursos de artesanato em geral, sem nenhuma conotação política. Apesar disso, fomos obrigados a parar com os trabalhos por causa ditadura”.
Esta experiência com a população carente foi tão importante que resolveu prestar vestibular para Serviço Social. Entrou na Faculdade e de lá saiu correndo. “Fiquei super decepcionada. Não aguentaria terminar o curso. Então resolvi trancar a matrícula e nunca mais voltei”. Depois disso, resolveu “levar a sério” sua paixão pelo desenho, fazendo cursos livres na Escola de Artes do Brasil, a princípio aprendeu xilogravura (arte e fazer desenhos em madeira). A gravura em metal, hoje sua especialidade, veio depois.
Heloisa conta que a partir da experiência na favela, sempre procurou ensinar. Durante um ano lecionou arte em um,a escola de método antroposófico, que prioriza a mente, a sensibilidade e também fazia programas específicos para professores, onde incentivava o processo de criação, explicando o que era “criar”.
Em 1976, ganhou seu primeiro prêmio em uma exposição. “As coisas acontecem meio por acaso, eu estava preparando uma exposição para o Rio Grande do Sul, patrocinada pela Aliança Francesa de lá. Um amigo que ia expor comigo me aconselhou a mandar algumas gravuras para o “Salão Casa da Bahia”, enquanto não íamos para Porto Alegre. Pois é, na Bahia acabei ganhando o prêmio”.
Até hoje, Heloisa já participou de oito Salões Oficiais de Gravura e de 72 exposições coletivas. Atualmente, é Coordenadora da Oficina de Gravura do Sesc da Tijuca, onde, inclusive, assessorou a equipe de engenheiros e arquitetos no planejamento e montagem da oficina.
Seu projeto mais recente é uma Mostra Itinerante comemorativa dos 10 anos do Sesc, que, além dos trabalhos de Heloisa, reúne obras de outros nove artistas. A exposição passou por Nova Iguaçu, está em Barra Mansa, em junho vai para Teresópolis e em 30 de agosto chega na Uerj.
Heloisa também é professora de arte do Colégio Andrews, escola de primeiro e segundo graus que considera ser a mais séria no campo de artes plásticas.
Nesse ano de eleições, HPF espera que os políticos realmente se preocupem com o Brasil, principalmente, na questão social. Acha muito triste ver tantas crianças na rua, sem que haja um projeto sério de educação. Ainda não escolheu seu candidato à presidente, mas não votará em branco. “Quero escolher alguém, preciso acreditar. Este é o País onde eu vivo, e contribuir para que ele saia da lama é uma obrigação minha e de todos os brasileiros”.
* “Gente de Santa: Heloisa Pires Ferreira”
Folha de Santa Teresa, pág 11, junho – 1994.
Sol Branco
1978 - Água tinta - 39 x 39cm - Foto: Henri Stahl
“Quero escolher alguém, preciso acreditar. Este é o País onde eu vivo, e contribuir para que ele saia da lama é uma obrigação minha e de todos os brasileiros”.
Heloisa ires Ferreira
Capa do Jornal
"Folha de Santa"
Editor: Luiz Marchesini
Matéria de Suzana Carolina
Gravura Brasileira - Coletiva na GB artes
Divulgação da exposição na UFRJ
"Uma Oficina Faz Dez Anos. A Gravura Brasileira está de Parabéns".
O gravar, o cravar, o rabiscar contorcido leva-nos ao mundo inebriante de cores e tons de Wilson Cotrin. Utiliza a viscosidade em total domínio e arranca tanto do metal como dos rolos uma diversidade infinita de figuras fortes e exuberantes. Possui linguagem fóssil, onde peixes, répteis e outros estão cravados para sempre.
Foram expostos 60 trabalhos de gravura em metal, linoleogravura, xilogravura de dez gravadores que trabalham no espaço.
Convite da expo na UERJ
Geraldo Edson de Andrade*
Uma Oficina faz Dez Anos. A Gravura Brasileira está de Parabéns.
Aos dez anos de atividades, A Oficina de Gravura do Sesc Tijuca pede passagem e mostra o resultado de seu trabalho.Dez anos podem parecer exíguos para a responsabilidade que a oficina exibe, não só daqueles que nela deram os primeiros passos, como igualmente de outros tantos que ali encontraram oportunidade a mais para desenvolverem a sua linguagem.
Em se tratando do Brasil, a Oficina de Gravura do Sesc Tijuca, exemplarmente instalada no meio de belos jardins num dos bairros mais tradicionais da cidade, é uma lição de eficiência que muito deve à orientação firme e esclarecida que lhe foi imposta pela gravadora Heloisa Pires Ferreira nesse decênio. E também do apoio recebido da própria entidade mantenedora, uma raridade quando se sabe que entre nós assuntos de natureza cultural enm sempre são prioritárias, como política operacional.
A gravura do Brasil – parece até ousado dizer – tem tradição e qualidade e criatividade, com repercussão internacional, a ponte de se impor como uma das melhores nesse século. Quem afirma não sou eu e, sim, o historiador norte americano Gilbert Chase na obra Art in Latin America (the Free Press, 1970), ao acentuar que “the contemporany graphic arts of Brazil are wiswly recogonized as standing among the most important of this century” Chase destaca principalmente o impacto causado por alguns gravadores brasileiros em salões e bienais no exterior, as honrosas premiações conquistadas que tanto prestigio granjearam para o osso pais.
Curioso que, no Brasil, pais tropical e luminosa luz, tenham os artistas optado pela arte gravada e se tornado um celeiro de talentosos gravadores e de mestres de excepcional investida nas suas mais dispares técnicas. Nesse particular, cabe ao Rio de Janeiro, em dúvida, destaque especial como centro irradiador de todo esse movimento.
Foi no Rio de Janeiro, despontaram os pioneiros, Carlos Oswald, Oswaldo Goeldi como grandes gravadores que estenderam sua atuação ao ensino, uma vez que a gravura tem esse vaticínio de transformar seus expoentes em professores em potencial, como se fosse a sua missão não deixar se apagar a chama que a ilumina.
O primeiro, após longo aprendizado na Europa, ao retornar ao Brasil, em 1914, inicia aqui oprimeiro curós de gravura em metal no Liceu de Artes e Ofícios, no mesmo local em que, em 1919, realizava também a primeira exposição de águas fortes não só no Rio de Janeiro mas no próprio pais. Noutra técnica, a xilo, na qual foi artista absoluto, Goeldi, a partir de 1924, expande-se em forte expressionismo co obras que figuram, por justiça, entre as mais representativas de toda a arte brasileira.
O dez artistas presentes nesta exposição comemorativa da Oficina de Gravura do Sesc Tijuca têm uma responsabilidade muito grande, qual seja a de manter a qualidade e o prestígio da nossa gravura. Em todas elas há um traço comum: conhecem técnicas, que também aprimoraram em outros centros de ensino de gravura no âmbito do Rio de Janeiro sob o estimulo de mestres gravadores de incontestáveis valor, mas que freqüentam a Oficina e Gravura do Sesc com renovado interesse. O bom gravador nunca deixa de estudar e pesquisar.
Do que valeria a técnica, imprescindível sob todos os pontos de vista, se nela não estivesse implícita a emoção: sete dos gravadores que ora expõe a sua obra – Elias Cassibi, Gilberto Grimming, Moacir Silva, Rosi Orsi, Wilson Cotrin, Paulista e Vera igo – são, na essência, artistas que trabalham o expressionismo em suas estampas, com técnicas e figurações que ora tendem para o dramático e o lirismo do tema, como igualmente, para o satírico, caso de Vera Rigo.
Os outros três expositores, incluindo os fascinantes mapas da América Latina, uma maneira sutil da veterana e consagrada Heloisa Pires Ferreira discutir o problema político que mais a incomodam, e lhe atraem, transitam com rara habilidade entre a figuração pop de Liége Nascimento e a arqueologia de Jayme Spector, esse último usando co o técnica o linóleo, pouco difundido entre nós.
O que dizer de todos eles, em conjunto: que encaram a gravura como meio de expressão, que mais do que promissores são artistas de uma geração que essa segura do que faz tanto quanto aqueles outros a quem estão sucedendo.
Os dez anos de Oficina de Gravura Sesc Tijuca, através das obras desses gravadores, não podiam ser melhor comemoradas.
Geraldo Edson de Andrade
Rio, Fevereiro, 1994.
26 de agosto, 1984
O Fluminense p.4
Segundo Caderno
Ariadne Guimarães comenta:
"Entre vários talentos desenvolvidos ou apurados na Oficina da Tijuca, alguns destacam-se pela originalidade, desenho ou técnica... "
( correção: o único a expor linoleo foi Jaime Spector e não Moacyr Silva. Heloisa corrige)
"A rara lineogravura, de Jayme Spector, tem espaço na exposição.
Liége Nascimento, carioca recentemente premiada no Salão da Primavera em Resende, é outro nome forte na mostra. A artista busca com traço sutil em água forte falar do vestiário feminino e masculino. O resultado é curioso e de grande delicadeza."
Sala Cândido Portinari, na UERJ, Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã.
30 de Agosto até 24 de Setembro de 1994.
Galeria de Artes Sesc Nov Iguaçu
Rua Aymorés, 10, Moquetá, Nova Iguaçu.
8 de abril até primeiro e maio de 1994.
Texto de Geral Edson de Andrade
Galeria de Arte Sesc Barra Mansa
Rua Tenente José Eduardo, 560
Barra Mansa
5 de maio até 29de maio de 1994.
Galeria de Arte Sesc Teresópolis
Rua Delfim Moreira, 749, Teresópolis
5 de junho até 26 de junho de 1994.
Jornal do Sesc divulga a exposição. Dá destaque ao Prêmio de Vera Rigo.
No catálogo: foto panorâmica da Oficina
Heloisa Pires Ferreira recebe certificado da UERJ sobre a palestra realizada em 7 de fevereiro, 1994.