25/11/2000 a 18/02/2001
86 participantes
Av Paulista, 149 São Paulo, SP
Na exposição 10 gravuras de
Heloisa Pires Ferreira
Heloisa Pires Ferreira*
Teresópolis, RJ 1943
Estuda xilogravura com José Altino, de 1969 a 1971, desenho com Zaluar, gravura em metal com Marília Rodrigues, entre 1972 e 1976, e com Anna Letycia e Mario Dóglio, em 1978 na Oficina de Gravura de Gravura do Ingá, em Niterói. Dê 1969 a 1972, leciona na Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro. Com bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian viaja em 1978 para Espanha e Portugal onde frequenta a Cooperativa de Gravadores Portugueses. Em 1983, é convidada especial do II Encontro de Animadores Culturais, em Monaga (Venezuela). No mesmo ano, assessora a montagem da Oficina de Gravura Sesc Tijuca, no Rio, que coordena e onde também leciona entre 1874 e 1999. Participa do projeto e da organização do livro Gravura Brasileira Hoje: Depoimentos. Entre as exposições que participa destacam-se Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro, 1974 e 1975; Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, San Juan, de 1977 e 1983; Salão Carioca, Rio de Janeiro, várias edições entre 1077 (prêmio de aquisição) e 1982 (premiada); Salão Nacional de Artes Plásticas, 1978; Mostra de Gravura Cidade de Curitiba, 1979 (premiada); Oficina de Gravura da Tijuca, 10° Ano, na Sala Candido Portinari da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e na Galeria de Arte do Sesc de Nova Iguaçú, Teresópolis, Petrópolis e Barra Mansa, em 1994; Rio Gravura Moderna Brasileira; Acervo Museu Nacional de Belas Artes, no MNBA, Rio de Janeiro, 1999.
Gravura Arte Brasileira do Século XX - Itaú Cultural - Organizadores: Leon Kossovitch e Mayra Laudanna Pag 142
Eu mesma, nascida numa família de elite,
tinha como espelho meus pais, donos de uma consciência política invejável.
[...] O questionamento dos valores da vida era colocado à mesa todo dia,
discutíamos esses valores. Era muito
natural, então que sendo uma pessoa sensível, apaixonada pelo desenho e pela
pintura, me deixasse envolver com as questões da favela vizinha a minha casa
[...]
Foi em 1966 que veio a proibição de continuar utilizando o espaço das favelas para questionar coisas. Então de desliguei. [...] Fui para São Paulo, trabalhar na Escola Antroposófica. Voltei, fui dar aulas na Escolinha de Arte do Brasil, com Augusto Rodrigues e Noêmia Varella.
Mas o fato de ter trabalho com os jovens favelados, mexeu muito com a minha cabeça. Eu via todas as pessoas irem fazer faculdade, levando adiante os estudos e tal, eu só me animava a desenhar e pintar. [...] Fiz vestibular para serviço social, uma coisa interessante...Cheguei a passar para a faculdade e não suportei. [...] Como eu gostava de tocar flauta na mata, isto é, tinha tanto prazer com isso como pintar e desenhar, surgiu a possibilidade de eu ir dar aulas numa escola em São Paulo, na Rudof Steiner. Lá, eu dava aulas de arte para as crianças no período da manhã e recebia aula de pintura à tarde. Fiz escultura, mexi com minha voz, aperfeiçoei a flauta, aprendi tapeçaria, carpintaria e xilo. [...] Quando voltei, fui imediatamente dar aulas na Escolinha de Arte do Brasil e fazer xilogravura com José Altino.
Tive umas aulas de desenho com Abelardo Zaluar e imprimi na casa da Edith Behring todos os sábados durante um ano.
Essa experiência foi fantástica: ela precisava, por causa da idade avançada, de um impressor que fosse calmo e não a perturbasse. Minha gravura é muito minuciosa, sou “alta estação” e, ao mesmo tempo, profundamente concentrada. [...] A cada sábado, ela me dava chapas diferentes para imprimir e eu aprendia muito. Terminei recebendo um senhor curso de gravura! [...]
Sempre usei duzentas mil ferramentas. De ácido, só o percloreto, com a chapa virada para baixo para dar certos efeitos. E ninguém pode mexer, senão não dá a renda lindíssima na textura da chapa. Na escolinha eles diziam que aquilo precisava de paciência chinesa. Isso pode ser fruto da meditação, pois eu já fazia meditação antes de fazer gravura. [...] Para mim, análise, arte e meditação têm muita coisa em comum. [...]
De repente, começaram a surgir figuras humanas, sempre ligadas a algum centro. Os labirintos desapareceram, surgiram no lugar deles as figuras em busca de um centro e depois começaram a vir bichos que iam para algum centro também. Eram uns pavões bem elegantes e todos cheios de penugem. [...] Eram pássaros imensos, todos cheios. Sempre havia centros em volta e esses centros se tornaram centro mesmo. Depois eles se tornaram sóis e luas. Eu tinha gravuras Sol Negro, Sol Vermelho, Sol Amarelo. [...] Os bichos começaram a ficar quase sem plumagens e as plumagens se transferindo para galhos que surgiam interferindo com os bichos. Esses bichos continuaram, desapareceram todos os galhos, ficaram sozinhos e ficaram os sóis sozinhos. Comecei a trabalhar nos sóis que apareceram em céus. [...] Esses sóis se expandiram no espaço. Falei da morte da América Latina, com suas divisões, dilaceramentos e incomunicabilidade, quase todos os países chorando o sofrimento de seus povos sob o domínio da ganância do poder, tendo o sol como símbolo de vida e de esperança. [...]
*Heloisa Pires Ferreira ; Retirado do volume III Gravura Brasileira Hoje: Depoimentos Sesc/Tijuca 22 de agosto de 1986 e 2 de agosto de 1997
Livro:
Gravura Arte Brasileira Século XX
co-edição Cosac & Naify - Itaú Cultural
Leon Kossovits e Mayra Laudanna
Ricardo Resende São Paulo
apresentação Ricardo Ribenboim - 270p
Cosac &Naify/Itaú Cultural, 2000
86 expositores
Leon Kossovitch e
Mayra Laudanna*
Gravura século XX
PÁG 22
Admirável, a gravura de Heloisa Pires Ferreira: do gênero alto, epiríco, ela acolhe a duplicidade que, habitualmente formulada como oposição, pertence contudo a uma única vidência.
Para lá da divisão entre o cósmico e o político, a intermetalização: descrevendo o sol que se metamorfoseia em cores e seres, Heloisa exibe a multiplicidade devinda como anelante de unificação não da unidade de que procedeu, mas da que está por vir. Sóis, luas, pavões, ramagens, que devem, ora como agregações, ora como metamorfoses, são efeitos, metaforicamente, da expansão e retração cósmicas, irisando-se, a um tempo, metafísica e moralmente. O Múltiplo anseia pelo Um como Múltiplo não é, porém, obra do ódio ou da injustiça, mas devir, devir do próprio amor, enquanto provindo de muitas faces, que, do sensível, contempla o perfeito semblante de Um. O discurso cósmico é imediatamente político como alegoria do que Heloisa Pires Ferreira denuncia na América Latina, o ódio, a injustiça, que produzem uma unificação sádica, exemplar na canalha chafurdante, mas não menos uma divisão perversa, operada pela mesma canalha do Bocaça nativo, porque aí, sem medida. O que se propõe na alegoria e na gravura que delicadamente expõe os aspectos da metamorfose é o desejo em conflito com a violência: em Heloisa, a estética e a moral cruzam-se na gravura, contemplativas e ativas a um só tempo.
*Leon Kossovitch, Professor Doutor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – USP e Mayra Laudanna, Professora Doutora de Teoria da Gravura, do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, IEB – USP.
Exposição Itaú Cultural e texto do livro “Arte Brasileira
do Século XX” – Itaú Cultural – 2000 – São Paulo, SP.

Apresentação Gravura Século XX
Leon Kossovitch e
Mayra Laudanna*da página 3 à página 34

Pg 142 e 143 Gravura Arte Brasileira Século XX


Vania Pinheiro Chaves é Professora de Literatura Brasileira na Universidade de Lisboa
de sua autoria
"O Despertar do Gênio Brasileiro" publicado pela Universidade de Campinas, SP em 2000
Ilustração da capa: gravura a buril de Heloisa Pires Ferreira
Vania Chaves em 2000 em Lisboa
Em 2000 Heloisa participa de vários encontros sobe bordado criador , entre eles no The Women's Club Of Rio de Janeiro
Em 2000, 2001, 2002 como em outros anos, Heloisa participa da comissão do Estadão Cultura para eleger os Vencedores do Prêmio Multicultural Estadão 2000