Grafik & Brodyr
Homenagem aos Quatro Elementos: Tapete
4,30cm x 0,90cm - 2004
Pavãozinho II: Gravura em Metal
0,50cm x 0,56cm - 1976
Galleri Nytorget 13
Nytorget 13 116 40 Stockholm
Vernissage
der 6 juni der 12 juni 2004
Grafikern: Heloisa Pires Ferreira
Apresentação: *Leon Kossovitch e Mayra Laudanna*
Tendo superado a treva do silêncio, Heloísa Pires Ferreira acede a uma fala luminosa: registrado em entrevistas e depoimentos, seu discurso tem a dimensão, hoje pouco considerada, da narração, cujo sentido se entretece com o sentido de sua arte. Sem reduzi-la ao ilustrativo, a narração, no discurso, tem o sentido ficcional de sua obra, enquanto esta narra, em jogo de espelhos, a narratividade a ambos comum.
Heloisa na entrada da Galleri Nytorget 13
Da ficção, o discurso não se impõe, portanto, à arte, instrumentalizando-a, nem se restringe à sua explicitação, o que produz uma conceituação muita vez surpreendente. Pois, no discurso de Heloísa, constroem-se duas ficções, a da narração, em que a autobiografia ficcionaliza a reflexão política, mística ou filosófica, a qual, em sentido inverso, recruza-a, trazendo-a para a ficção nos traços de retrato que efetua; não há, nessa dupla narração, fechamento, uma vez que, além das idas e vindas do sentido entrecruzado, ressalta uma terceira direção, a da prática, em que o ensino, sempre inconcluso, insiste, exemplar, na fala da artista.
A gravura e o bordado são as direções dominantes da pesquisa de Heloísa: por isso, ambas se imbricam e se correspondem em muitos pontos, intensamente investidos pela narração. A ficção da artista desprende-se, assim, da linearidade temporal que periodiza as artes na formação de conjuntos, para seguir linhas cursivas e recursivas, nas quais o conceito e a obra se recruzam como expansões e contrações de sentido, singularizando-se em pontos que declaram uma tendência, uma viragem, uma fratura. Não se propõem, por isso, fases para a obra; contudo, as recorrências não são ficcionais apenas por recusar a positividade da periodização, mas por impedir que a noção de ilustração subordine a arte a um discurso pretextado como seu fundamento.
Tapete Bico de Lacre - 1977 Tapete Mil Folhas - 1997
Tapete Pássaro Azul 1986 Tapete Burrinho - 1976

A montadora da exposição com Heloisa
Considere-se, pois, o paralelismo das duas ficções, da artística e da discursiva: ambas se qualificam por traços épicos de uma narração que se estende das marcas biográficas às estéticas e cujos correlatos são os registros da prática, como os do ensino, da ética ou da política, que interpretam o país ou defendem os explorados do mundo. É notável que esta dimensão Cépica se relacione com outra, a mística, cujo esperado retiro do mundo produz contraste de intensa dramaticidade na narração: tencionando a ficção com emoções contraditórias em seu anti-conformismo, a arte e o discurso conjugam, admiravelmente, a contemplação extática e a intervenção política, no jogar uma na outra.
Narrativa como o discurso, a gravura de Heloísa é ficção construída por devires, metamorfoses, ambigüidades, contradições, correlações, que não se subordinam aos significados de temas por distinguir as articulações que se encadeiam como conjuntos de gravuras ou partes delas. Por isso, o paralelismo das duas ordens ficcionais se produz como imbricação de duas narrações que, sendo recíprocas, explicitam-se tanto nos temas, quanto no que os articula. A ficção da artista traça-se como um périplo de insistências, deslizamentos, enodamentos que articulam diversamente o sentido épico, no qual tanto Heloísa se enuncia como testemunha desse sentido, quanto outros protagonistas, artistas ou não, que se destacam na tessitura de histórias, nas quais tem relevância a gravura recente do Rio de Janeiro.
Nas gravuras, a iconografia, com seus pássaros, sóis ou mapas, é recorrente na ficção como deslizante na insistência e insistente no deslizamento: a recorrência, o deslizamento, a insistência das imagens articulam-se em uma enunciação épica, em que o narrado, embora exposto linearmente na fala, desdobra-se em retomadas, interrupções, acúmulos, efetuação gráfica que se rebate no discurso da artista, enovelando-o. Há, assim, uma dupla ficção: é discursiva aquela em que prevalece a linearidade, ao passo que os entre laços, como idas e vindas de um sentido não linear, caracterizam preferencialmente a obra gráfica.
Na dupla ficção da artista, opera o nó, no qual se entrelaçam histórias diversas, cujo narrador é miragem projetada nos enunciados como personagem, que, muita vez em abismo, narra. Tanto a personagem narrada quanto o narrador, que se omite, entrecruzam-se, de modo que Heloísa se expõe discursivamente com outras, também reveladas ao falar em um Brasil com muitas vozes: protagonistas da história, estas personagens aparecem como próximas à artista, sendo suas funções assinaladas em conformidade com as linhas expositivas, como a que trata da arte, do ensino, da política, da finança.
As junções das diversas narrativas podem surpreender, assim, a de seus estudos de Karl Marx e suas aproximações a Rudolf Steiner, mas, não menos, o seu ensino em favela do Rio de Janeiro e em escola steineriana de São Paulo. Esses contrastes envolvem muito sofrimento, que a artista hiperboliza com a oposição da fala ao silêncio. A fala é o que a artista busca, pois alegoriza suas dificuldades em sobreviver à política brasileira dos anos da ditadura militar. Essa oposição, que joga, evidentemente, com o contraste das trevas e das luzes, desdobra-se em vários planos: o do silêncio imposto pelo autoritarismo às pessoas, que só se libertam como falantes; o do silêncio na arte brasileira e da fala, mas em sentido amplo, pois a própria Heloísa faz arte enquanto permanece bastante tempo calada; o da dificuldade da fala, pois o fato de a arte poder prescindir do discurso, não implica que possa substituí-lo, de modo que a professora Heloísa Pires Ferreira pede a seus alunos que não abram mão dele, demanda estendida a seus colegas artistas.
É nesse horizonte que a arte e o discurso de Heloísa se relacionam: oposição, mas também contradição, ambigüidade, paradoxo narram devires imprevistos, metamorfoses estranhas, correlações bizarras. Como o discurso, a gravura e o bordado ficcionalizam-se, embora as narrações destas artes difiram. O bordado põe em evidência o devir material do tecido: pedaços coloridos de panos são costurados uns ao lado de outros, para formar a base lisa sobre a qual o bordado se faz, engruvinhando-a, o que a torna ondulada, quando não, rugosa. Este devir da superfície do material corresponde ao do cromatismo, pois os pedaços de áreas uniformes de cor se tornam, como efeito do uso de linhas coloridas, cores justapostas e, ainda mais, interpenetradas, de modo que o plano de pedaços coloridos se torna reverberante campo cromático.
Embora o bordado seja a arte pela qual Heloísa se inicia, é a gravura, mais que o desenho e a aquarela, que se distingue em seu discurso artístico. Por isso, também, o devir dos bordados estende-se, na sua fala, logo ao das gravuras, conquanto, introduzindo-se doravante na iconografia, estas ultrapassem os limites das questões dos materiais das respectivas artes. A cor é o que mais claramente evidencia a estética da artista: o cromatismo do bordado mantém-se na gravura, embora desintensificado, o que remete à diferença dos materiais. Mais, porém, que o bordado, a gravura compensa a atenuação das cores com uma gravação cuja força cromática fica tecnicamente ressaltada.
Kristina Bjuhn - dona da Galleri Nytorget 13
Heloisa Pires Ferreira
Mariah Beraba - patrocinadora daexposiçãoAlém do intenso cromatismo, a gravura lança uma iconografia que não se circunscreve por distinções técnicas, pois estas se relacionam com conceitos e afetos do discurso, no qual se declara que a obra recolhe parcelas da sensibilidade e do pensamento de Heloísa. Com isso, a artista estabelece a correspondência entre o que o discurso afirma ser a face exterior e a interior da arte: a correlação da interioridade, assim, do afetivo e do conceitual, com a exterioridade da obra se especifica, portanto, como sendo a de dois espaços, o do interior e o do exterior, a soltar os devires, metamorfoses e correlações de seu trancamento em um só destes espaços. Por sua vez, o discurso conceitual de Heloísa evidencia-se retroativamente elaborado pelas categorias espaciais que lhe constroem a arte.
A interioridade e a exterioridade correlacionam-se, assim, como espaços; a geometrização do discurso corresponde à que opera na gravura, a qual, segundo a artista, inicia-se com pontos. Estes ora se expandem, ora se metamorfoseiam, sempre devires, em que um interior e um exterior se interceptam. Os pontos tornam-se, na narração de Heloísa, pássaros, sóis, nebulosas, mapas, pois, sendo labirínticos por se dividirem em si mesmos, apresentam-se como conceitos complexos e não como elementos de alguma geometria. Estes elementos são metafóricos no discurso, podendo ser qualificados, como afirma a artista, de rebuscados, detalhados, expandidos. Labirínticos, os pontos implicam o paradoxo ou a contradição em discurso que, diferentemente do da artista, exige a não-contradição na concepção da gravura. Nesta, a multiplicação, a expansão, a metamorfose são feitas com elementos gráficos que constroem a obra, à exclusão de qualquer consideração que acene com o não-ficcional: não surpreende que os pontos não possam ser, como declara Heloísa, pegos ou fotografados.
Noção
elementar do discurso, o ponto tem sentido gravitacional, pois atrai,
metafórico, outros seres, que Heloísa interpreta, por vezes, em chave de campo
elétrico. Mais, porém, do que física, a energia do ponto, atraindo os seres, é
fantástica, pois faz surgir pássaros e sóis, tornando-se, por sua vez, túnel,
luz, quando não, pletora de pontos, nebulosa. Mas o devir não afeta somente o
ponto, uma vez que também os seres atraídos sofrem metamorfoses, como os
pássaros, que, quando autônomos em relação ao ponto, tornam-se montanhas,
árvores, fantasmas. Os devires implicam, portanto, metamorfoses que combatem a
linearidade: considere-se o duplo devir de pássaro e árvore, um se
metamorfoseando no outro, que não instala o espectador no aconchego da
hierarquia em que um dos dois é o que devém e o outro, o que deveio.
Há,
também, devires de afetos, como nos mapas, em que as metamorfoses seguem ora a
linha da dor, ora a da alegria, e é aqui que a política se declara. Em tais
devires, a artista expõe discursivamente tanto seu luto, quanto sua esperança
no que concerne à América Latina; enquanto os primeiros mapas são os de dor,
com o do México, deformado relativamente à cartografia convencional, fulgura a
esperança, que a transformação do desenho cartográfico em animalista ilumina
como alegoria de renascimento efetuada pela metamorfose do mapa em dragão. Com o mapa do
México, a figuração dos Estados do Brasil proclama afetos afirmativos nas
metamorfoses amorosas de bichos.
Nos devires e metamorfoses opera, retórica, a hipérbole: tanto na narração quanto na gravura, Heloísa envolve-se com amplificações que se especificam, tendo o ponto por referência. Há uma amplificação numérica, na qual o ponto se dissemina, como nas nebulosas; há uma hiperbolização expansiva, quando o ponto cresce, tornando-se sol; há, também, uma diminutiva, quando o ponto se fragmenta, complexo, a evidenciar seus pormenores e rebuscamentos. O labirinto é, neste sentido, o do infinitamente grande e do infinitamente pequeno, pois Heloísa traz uma lente que também narra uma ficção proliferante em entrelaços do contínuo e do discreto. A narração, configurando a fantasia, hiperboliza o sentido, desce ao pormenor de um contato efêmero com algum artista, enquanto se ergue à permanência das idéias políticas que misticamente sobrevoa.
O infinitamente grande e o pequeno da hipérbole iconográfica e discursiva de Heloísa incidem em uma lente que mostra o bordado como processo, pois aumentado e diminuído além dos parâmetros estabelecidos para controle. Esta homologia da gravura e do bordado expõe o eixo de intersecção das duas artes: predominantemente calcográfica, a gravura não exclui inclusões xilográficas, amplificadoras dos recursos artísticos. É o que também se observa na relação da sutileza dos efeitos dos buris e águas-tintas com o refinamento dos efeitos do bordado, o qual, embora nada configure, figura-se como disseminação de raios em toda a superfície ondulada, que se acende. Mas, é graças à luz que as linhas do buril são homólogas às linhas do bordado: enquanto, na gravura, as relações dos traços do buril e das manchas de águas-tintas engendram uma infinita reverberação, no bordado, o fundo ascende pela intercessão das linhas vibráteis na geração de reverberantes raios infinitos, luz.
*Leon Kossovitch e Mayra Laudanna,São Paulo, março de 2004
Apresentação da Exposição: “grafik & Brodyr”
Gallery Nytorget 13, Stockholm, Suécia, 2004
Foram expostas tapetes trabalhados entre 1978 e 2004
Fotos:
Rubber Seabra
Tapete Gavião - 1984
Tapete: Pássaro Azul 1986
Tapete: 1997

Pássaro Mil folhas
Tapete 2000
Bem Te Vis
se agrupando
Tapete 1978
Urso Polar
Tapete 1983
Beija Flor
Tapete Dromedário 1992
Tapete 1995
Cachorro Manso
Tapete Galo
Foram expostas 40 gravuras de 1973 a 2003
Pássaro Caído
Liberdade
Dois Pássaros
1977 Contemplação
1977
Sol Mostarda
1983
América Latina

1992
Constelação

Convite em ingles

Heloisa recebe em Estocolmo carta de Hugo Stumpf
Foi um lindo momento encontrar tantos Suecos tendo interesse em conhecer os trabalhos de arte de uma brasileira
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Pavãozinho II Pavão Prata

1988 Espaço Devastado 1978 Isolado na Esperança

Currículo em inglês
Cleusa Maria no Jornal do Brasil divulga


Currículo em Sueco

Curriculo em portugues
A exposição estava bem sinalizada
A Primeira fase consta de labirintos e pássaros
em busca de um ponto (73 a 76)

A segunda fase se caracteriza por sóis ou pássaros
O quarto período de trabalho são sóis e estados brasileiros em momentos e esperança e alegraia (92 a 97)
No estado atual das gravuras encontramos constelações ou detalhes de sóis. (97 a 03).
2000 - Ode ao Amor Maior