terça-feira, 30 de janeiro de 2024

2004 - Galleri Nytorget 13 - Grafik & Brodyr - Nytorget 13 - Stockholm


 

         Grafik & Brodyr 

 Homenagem aos Quatro Elementos: Tapete 

4,30cm x 0,90cm -  2004

Pavãozinho II: Gravura em Metal 

0,50cm x 0,56cm - 1976


Galleri Nytorget 13  

Nytorget 13 116 40 Stockholm 

Vernissage 

der 6 juni  der 12 juni 2004 

Grafikern:  Heloisa Pires Ferreira 


Apresentação: *Leon Kossovitch  e Mayra Laudanna*

Tendo superado a treva do silêncio, Heloísa Pires Ferreira acede a uma fala luminosa: registrado em entrevistas e depoimentos, seu discurso tem a dimensão, hoje pouco considerada, da narração, cujo sentido se entretece com o sentido de sua arte. Sem reduzi-la ao ilustrativo, a narração, no discurso, tem o sentido ficcional de sua obra, enquanto esta narra, em jogo de espelhos, a narratividade a ambos comum. 

Heloisa na entrada da Galleri Nytorget 13

Da ficção, o discurso não se impõe, portanto, à arte, instrumentalizando-a, nem se restringe à sua explicitação, o que produz uma conceituação muita vez surpreendente. Pois, no discurso de Heloísa, constroem-se duas ficções, a da narração, em que a autobiografia ficcionaliza a reflexão política, mística ou filosófica, a qual, em sentido inverso, recruza-a, trazendo-a para a ficção nos traços de retrato que efetua; não há, nessa dupla narração, fechamento, uma vez que, além das idas e vindas do sentido entrecruzado, ressalta uma terceira direção, a da prática, em que o ensino, sempre inconcluso, insiste, exemplar, na fala da artista.


A gravura e o bordado são as direções dominantes da pesquisa de Heloísa: por isso, ambas se imbricam e se correspondem em muitos pontos, intensamente investidos pela narração. A ficção da artista desprende-se, assim, da linearidade temporal que periodiza as artes na formação de conjuntos, para seguir linhas cursivas e recursivas, nas quais o conceito e a obra se recruzam como expansões e contrações de sentido, singularizando-se em pontos que declaram uma tendência, uma viragem, uma fratura. Não se propõem, por isso, fases para a obra; contudo, as recorrências não são ficcionais apenas por recusar a positividade da periodização, mas por impedir que a noção de ilustração subordine a arte a um discurso pretextado como seu fundamento.

      Tapete Bico de Lacre - 1977                                 Tapete Mil Folhas - 1997

 



Tapete Pássaro Azul 1986                                        Tapete Burrinho - 1976


 

    A montadora da exposição com Heloisa




Considere-se, pois, o paralelismo das duas ficções, da artística e da discursiva: ambas se qualificam por traços épicos de uma narração que se estende das marcas biográficas às estéticas e cujos correlatos são os registros da prática, como os do ensino, da ética ou da política, que interpretam o país ou defendem os explorados do mundo. É notável que esta dimensão Cépica se relacione com outra, a mística, cujo esperado retiro do mundo produz contraste de intensa dramaticidade na narração: tencionando a ficção com emoções contraditórias em seu anti-conformismo, a arte e o discurso conjugam, admiravelmente, a contemplação extática e a intervenção política, no jogar uma na outra. 

Narrativa como o discurso, a gravura de Heloísa é ficção construída por devires, metamorfoses, ambigüidades, contradições, correlações, que não se subordinam aos significados de temas por distinguir as articulações que se encadeiam como conjuntos de gravuras ou partes delas. Por isso, o paralelismo das duas ordens ficcionais se produz como imbricação de duas narrações que, sendo recíprocas, explicitam-se tanto nos temas, quanto no que os articula. A ficção da artista traça-se como um périplo de insistências, deslizamentos, enodamentos que articulam diversamente o sentido épico, no qual tanto Heloísa se enuncia como testemunha desse sentido, quanto outros protagonistas, artistas ou não, que se destacam na tessitura de histórias, nas quais tem relevância a gravura recente do Rio de Janeiro. 

Nas gravuras, a iconografia, com seus pássaros, sóis ou mapas, é recorrente na ficção como deslizante na insistência e insistente no deslizamento: a recorrência, o deslizamento, a insistência das imagens articulam-se em uma enunciação épica, em que o narrado, embora exposto linearmente na fala, desdobra-se em retomadas, interrupções, acúmulos, efetuação gráfica que se rebate no discurso da artista, enovelando-o. Há, assim, uma dupla ficção: é discursiva aquela em que prevalece a linearidade, ao passo que os entre laços, como idas e vindas de um sentido não linear, caracterizam preferencialmente a obra gráfica.

Na dupla ficção da artista, opera o nó, no qual se entrelaçam histórias diversas, cujo narrador é miragem projetada nos enunciados como personagem, que, muita vez em abismo, narra. Tanto a personagem narrada quanto o narrador, que se omite, entrecruzam-se, de modo que Heloísa se expõe discursivamente com outras, também reveladas ao falar em um Brasil com muitas vozes: protagonistas da história, estas personagens aparecem como próximas à artista, sendo suas funções assinaladas em conformidade com as linhas expositivas, como a que trata da arte, do ensino, da política, da finança. 

As junções das diversas narrativas podem surpreender, assim, a de seus estudos de Karl Marx e suas aproximações a Rudolf Steiner, mas, não menos, o seu ensino em favela do Rio de Janeiro e em escola steineriana de São Paulo. Esses contrastes envolvem muito sofrimento, que a artista hiperboliza com a oposição da fala ao silêncio. A fala é o que a artista busca, pois alegoriza suas dificuldades em sobreviver à política brasileira dos anos da ditadura militar. Essa oposição, que joga, evidentemente, com o contraste das trevas e das luzes, desdobra-se em vários planos: o do silêncio imposto pelo autoritarismo às pessoas, que só se libertam como falantes; o do silêncio na arte brasileira e da fala, mas em sentido amplo, pois a própria Heloísa faz arte enquanto permanece bastante tempo calada; o da dificuldade da fala, pois o fato de a arte poder prescindir do discurso, não implica que possa substituí-lo, de modo que a professora Heloísa Pires Ferreira pede a seus alunos que não abram mão dele, demanda estendida a seus colegas artistas.

É nesse horizonte que a arte e o discurso de Heloísa se relacionam: oposição, mas também contradição, ambigüidade, paradoxo narram devires imprevistos, metamorfoses estranhas, correlações bizarras. Como o discurso, a gravura e o bordado ficcionalizam-se, embora as narrações destas artes difiram. O bordado põe em evidência o devir material do tecido: pedaços coloridos de panos são costurados uns ao lado de outros, para formar a base lisa sobre a qual o bordado se faz, engruvinhando-a, o que a torna ondulada, quando não, rugosa. Este devir da superfície do material corresponde ao do cromatismo, pois os pedaços de áreas uniformes de cor se tornam, como efeito do uso de linhas coloridas, cores justapostas e, ainda mais, interpenetradas, de modo que o plano de pedaços coloridos se torna reverberante campo cromático. 


 

 Embora o bordado seja a arte pela qual Heloísa se inicia, é a gravura, mais que o desenho e a aquarela, que se distingue em seu discurso artístico. Por isso, também, o devir dos bordados estende-se, na sua fala, logo ao das gravuras, conquanto, introduzindo-se doravante na iconografia, estas ultrapassem os limites das questões dos materiais das respectivas artes. A cor é o que mais claramente evidencia a estética da artista: o cromatismo do bordado mantém-se na gravura, embora desintensificado, o que remete à diferença dos materiais. Mais, porém, que o bordado, a gravura compensa a atenuação das cores com uma gravação cuja força cromática fica tecnicamente ressaltada. 

Kristina Bjuhn - dona da Galleri Nytorget 13

Heloisa Pires Ferreira

Mariah Beraba  - patrocinadora daexposição

Além do intenso cromatismo, a gravura lança uma iconografia que não se circunscreve por distinções técnicas, pois estas se relacionam com conceitos e afetos do discurso, no qual se declara que a obra recolhe parcelas da sensibilidade e do pensamento de Heloísa. Com isso, a artista estabelece a correspondência entre o que o discurso afirma ser a face exterior e a interior da arte: a correlação da interioridade, assim, do afetivo e do conceitual, com a exterioridade da obra se especifica, portanto, como sendo a de dois espaços, o do interior e o do exterior, a soltar os devires, metamorfoses e correlações de seu trancamento em um só destes espaços. Por sua vez, o discurso conceitual de Heloísa evidencia-se retroativamente elaborado pelas categorias espaciais que lhe constroem a arte. 

A interioridade e a exterioridade correlacionam-se, assim, como espaços; a geometrização do discurso corresponde à que opera na gravura, a qual, segundo a artista, inicia-se com pontos. Estes ora se expandem, ora se metamorfoseiam, sempre devires, em que um interior e um exterior se interceptam. Os pontos tornam-se, na narração de Heloísa, pássaros, sóis, nebulosas, mapas, pois, sendo labirínticos por se dividirem em si mesmos, apresentam-se como conceitos complexos e não como elementos de alguma geometria. Estes elementos são metafóricos no discurso, podendo ser qualificados, como afirma a artista, de rebuscados, detalhados, expandidos. Labirínticos, os pontos implicam o paradoxo ou a contradição em discurso que, diferentemente do da artista, exige a não-contradição na concepção da gravura. Nesta, a multiplicação, a expansão, a metamorfose são feitas com elementos gráficos que constroem a obra, à exclusão de qualquer consideração que acene com o não-ficcional: não surpreende que os pontos não possam ser, como declara Heloísa, pegos ou fotografados.

 Noção elementar do discurso, o ponto tem sentido gravitacional, pois atrai, metafórico, outros seres, que Heloísa interpreta, por vezes, em chave de campo elétrico. Mais, porém, do que física, a energia do ponto, atraindo os seres, é fantástica, pois faz surgir pássaros e sóis, tornando-se, por sua vez, túnel, luz, quando não, pletora de pontos, nebulosa. Mas o devir não afeta somente o ponto, uma vez que também os seres atraídos sofrem metamorfoses, como os pássaros, que, quando autônomos em relação ao ponto, tornam-se montanhas, árvores, fantasmas. Os devires implicam, portanto, metamorfoses que combatem a linearidade: considere-se o duplo devir de pássaro e árvore, um se metamorfoseando no outro, que não instala o espectador no aconchego da hierarquia em que um dos dois é o que devém e o outro, o que deveio.

Há, também, devires de afetos, como nos mapas, em que as metamorfoses seguem ora a linha da dor, ora a da alegria, e é aqui que a política se declara. Em tais devires, a artista expõe discursivamente tanto seu luto, quanto sua esperança no que concerne à América Latina; enquanto os primeiros mapas são os de dor, com o do México, deformado relativamente à cartografia convencional, fulgura a esperança, que a transformação do desenho cartográfico em animalista ilumina como alegoria de renascimento efetuada pela metamorfose do mapa em dragão. Com o mapa do México, a figuração dos Estados do Brasil proclama afetos afirmativos nas metamorfoses amorosas de bichos.

Nos devires e metamorfoses opera, retórica, a hipérbole: tanto na narração quanto na gravura, Heloísa envolve-se com amplificações que se especificam, tendo o ponto por referência. Há uma amplificação numérica, na qual o ponto se dissemina, como nas nebulosas; há uma hiperbolização expansiva, quando o ponto cresce, tornando-se sol; há, também, uma diminutiva, quando o ponto se fragmenta, complexo, a evidenciar seus pormenores e rebuscamentos. O labirinto é, neste sentido, o do infinitamente grande e do infinitamente pequeno, pois Heloísa traz uma lente que também narra uma ficção proliferante em entrelaços do contínuo e do discreto. A narração, configurando a fantasia, hiperboliza o sentido, desce ao pormenor de um contato efêmero com algum artista, enquanto se ergue à permanência das idéias políticas que misticamente sobrevoa. 

O infinitamente grande e o pequeno da hipérbole iconográfica e discursiva de Heloísa incidem em uma lente que mostra o bordado como processo, pois aumentado e diminuído além dos parâmetros estabelecidos para controle. Esta homologia da gravura e do bordado expõe o eixo de intersecção das duas artes: predominantemente calcográfica, a gravura não exclui inclusões xilográficas, amplificadoras dos recursos artísticos. É o que também se observa na relação da sutileza dos efeitos dos buris e águas-tintas com o refinamento dos efeitos do bordado, o qual, embora nada configure, figura-se como disseminação de raios em toda a superfície ondulada, que se acende. Mas, é graças à luz que as linhas do buril são homólogas às linhas do bordado: enquanto, na gravura, as relações dos traços do buril e das manchas de águas-tintas engendram uma infinita reverberação, no bordado, o fundo ascende pela intercessão das linhas vibráteis na geração de reverberantes raios infinitos, luz.

                                       *Leon Kossovitch  e Mayra Laudanna,São Paulo, março de 2004

                                        Apresentação da Exposição: “grafik & Brodyr” 

                                        Gallery Nytorget 13, Stockholm, Suécia, 2004


                    Foram expostas tapetes trabalhados  entre 1978 e 2004




    

     Tapete Galo:1985

  

   Fotos:

 Rubber Seabra


 

Tapete Gavião - 1984


  

 

 


 


     Tapete: Pássaro Azul 1986

Tapete: 1997          

Pássaro Mil folhas

            
        
Tapete 2000 

             Bem Te Vis 

          se agrupando

 

Tapete 1978

 Urso Polar

                

 

        Tapete 1983

         Beija Flor

 

 

 

Tapete Dromedário 1992
 

             


    Tapete   1995

   Cachorro Manso

 

 


Tapete  1998

Tapete Galo 

 



Heloisa em   2004                                            
 Tapete Peixe 1999       


Trajetória da Gravura  brasileira ganha vida na Suécia
          

Foram expostas 40 gravuras de 1973 a 2003


1973 -

Pássaro Caído

 

 

1974 

Liberdade 

 

 

      
1975

Dois Pássaros 


 

 

 

1977 Contemplação 

 

 

1977  

Sol Mostarda

 

 

 

 


 


1983 

América Latina

  






 

 

1992

Constelação 

      1992  Bahia 

 

 

 

 

 

 

            
Convite em ingles






      
             









 

 

  Heloisa recebe em Estocolmo carta de Hugo Stumpf

 

 

 

Foi um lindo momento encontrar tantos Suecos tendo interesse em conhecer os trabalhos de arte de uma brasileira 





    








     Pavãozinho II                                           Pavão Prata

   







1988 Espaço Devastado                                                                                                                                                                               1978  Isolado na Esperança


    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Currículo em inglês 

Cleusa Maria  no Jornal do Brasil divulga








    Recibos de vendas















Currículo em Sueco           

Curriculo em portugues
         
          








 

 

 

 

 

                      

   A exposição estava bem sinalizada

 

     

 
  

 

 

 

 A Primeira fase consta de labirintos e pássaros

em busca de um ponto (73 a 76)



 













A segunda fase  se  caracteriza por sóis ou pássaros

 

 

 









 

 

 



   O terceiro momento da obra, Heloisa Pires Ferreira chora a morte da cultura  da América Latina através de seus mapas (83 a 92)

 

O quarto período de trabalho são sóis e estados brasileiros em momentos e esperança e alegraia (92 a 97)

 

 

 

 

 

 

 

No estado atual das gravuras encontramos constelações ou  detalhes de sóis. (97 a 03).            

2000 - Ode ao Amor Maior  

Tapete Bordado Criador

 

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